EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

quinta-feira, 5 de julho de 2007

enough...

Cansei de não ser suficiente para os outros. O que diabos, afinal, as pessoas esperam de mim? Que eu seja perfeita? Perda de tempo.
Sou imperfeita, irresponsável, inconseqüente... E daí? Nessas horas eu caio em contradição com o que disse anteriormente sobre ficar / ser sozinho: quando essas coisas acontecem vejo que talvez haja sentido em ficar só... Não quero mais colo de mãe, pai, etc... Não haveria ninguém pra me rotular, ninguém pra me cobrar, ninguém pra dizer que eu poderia ser melhor. Sou o que sou, porra! Eu preciso ser suficiente para mim, preciso me bastar! Se ficar esperando fazer falta ou ser reconhecida por alguém, estou ferrada. Literalmente ferrada. Por que as pessoas não podem gostar de mim assim? Isso me dá medo, porque começo a pensar que talvez eu seja muito estranha ou muito difícil... Será que isso é unanimidade?
Outro dia ouvi alguém falar sobre a gratuidade do amor... Deve-se amar incondicionalmente, mas acredito que as pessoas ainda não saibam o que significa "incondicionalmente". EU amo incondicionalmente, gratuitamente, e vejo os defeitos como peculiaridades. Se alguém vê meus defeitos acima das minhas qualidades, é porque não sabe amar. Quer amar uma criatura inanimada. Eu não sou um ser inanimado, eu tenho sentimentos! Cansei de um monte de coisas. Cansei.

Sinto-me desamparada, carente de proteção... assim como Clarice... Esse grito mudo que sai de mim não se faz ouvir... ele apenas vibra e retorna em silêncio.

Como diria Manuel Bandeira:
"Vou-me embora pra Pasárgada..."

2 comentários:

Anonymous disse...

Amor e humildade

Nós viveremos, universo em fora,
Trazendo dentro d’alma a vida acesa
No ritmo da luz da Natureza,
Que é a eterna vibração da eterna autora.
A dor, somente a dor nos aprimora,
Nos caminhos da prova e da aspereza,
Elevando a nossa alma na grandeza
Da grande claridade redentora.
Somos os lutadores peregrinos,
Sonhando pela estrada dos destinos,
Um castelo de paz, ventura e glórias.
Sabemos do passado envolto em ruínas
Que a luz do amor e as rudes disciplinas,
São as chaves das últimas vitórias.

Raul de Leoni (Soneto psicografado em 1936)

Sinto sua falta!

I'm Nina, Marie, etc... disse...

Platônico

"As idéias são seres superiores,
— Almas recônditas de sensitivas —
Cheias de intimidades fugitivas,
De crepúsculos, melindres e pudores.

Por onde andares e por onde fores,
Cuidado com essas flores pensativas,
Que tem pólen, perfumes, órgãos e cores
E sofrem mais que as outras cousas vivas.

Colhe-as na solidão... são obras-primas
Que vieram de outros tempos e outros climas
Para os jardins de tua alma que transponho,

Para com ela teceres, na subida,
A coroa votiva do teu Sonho
E a legenda imperial da tua Vida."

Mais um pouco de Raul de Leoni para vc, caro anônimo. Confesso que fiquei curiosa...