EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

sábado, 27 de setembro de 2008

interesting quotes...

"I like hearing myself talk. It is one of my greatest pleasures. I often have long conversations all by myself. Sometimes I am so clever I don't understand a single word of what I am saying."


"I don't regret for a single moment having lived for pleasure. I did it to the full, as one should do everything that one does. There was no pleasure I did not experience. I threw the pearl of my soul into a cup of wine. I went down the primrose path to the sound of flutes. I lived on honeycomb. But to have continued the same life would have been wrong because it would have been limiting. I had to pass on. The other half of the garden had its secrets for me also."

[Oscar Wilde]

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

opium cum dignitatem...

Olharam-se e rosnaram baixo para o outro, reconhecendo-se. Onde quer que estivessem, se o corpo pedisse, buscavam refúgio no escuro ou vazio de um cômodo qualquer. Ela entreabia a boca e sorria maliciosamente, um sorriso que era o sinal que ele precisava para que a conduzisse pelo braço para que se satisfizessem, despindo-se da fantasia social convencional. E quando livravam-se de suas máscaras, os demônios que escondiam tomavam seus corpos e o desejo e a sujeira vinham à tona.

Eram diferentes, doentes aos olhos dos outros. Ele levava no corpo marcas do desejo compartilhado, assim como ela. As cicatrizes pelos braços e nuca a deixavam ainda mais atraente, pois traziam recordações de momentos entorpecentes como ópio, onde esqueciam a dor e entregavam-se aos jogos íntimos que lhes causavam euforia incomum...

Ele a torturava, adoravelmente sádico, com uma sensibilidade jamais vista. Emocionava-se a cada corte, enquanto sua pequena masoquista - presa por pesadas amarras - implorava para que ele a deixasse provar da droga que brotava naturalmente de sua pele branca e fria. Os grandes olhos castanhos enchiam-se de emoção, e o peito alvo saltava ao ritmo acelerado da respiração. Ela chorava e gargalhava, descontrolada de desejo, enquanto ele a torturava, nu e excitado, com mais cortes pelos próprios braços. O sexo teso latejava aos olhos da companheira, sem que ela pudesse tocá-lo. E babava, rijo e inchado, louco para invadir a carne vermelha e quente que ela guardava no meio daquelas coxas brancas como nuvens.

Ela desejava ser currada, sentir as estocadas fortes e profundas, como se ele pudesse rasgá-la ao meio. Achavam realmente que o sangue do outro amenizava as dores, intensificando o prazer. Eram insanos, únicos, viciados. E o vício era o outro; o ópio era o sangue, a dor e o prazer.

E quando ele se aproximava, misericordioso, oferecendo-lhe os cortes para seu deleite, ela o aceitava prontamente, como uma cadela a lamber as feridas de seu dono. Beijavam-se, alucinados, enquanto ele esfregava sangue de seu braço em seu sexo para que ela o tragasse inteiro, divino, perfeito.

A boca carnuda o engolia e a língua quente o lambia ferozmente. E quando sentia todas as veias do corpo dilatadas e pulsando descontroladamente, soltava sua fêmea e a fodia como um bárbaro, deliciando-se com todos os gritos e gemidos e lágrimas e risos que vinham de sua cadela insana, entorpecida pelo desejo da carne e pelo ópio do sangue.

O coito seguia, violento, amoroso, incomparável. O prazer vinha em ondas quentes que tomavam o ventre cada vez mais forte, anunciando a plenitude do ato: era o gozo, o mar quente de espuma branca que inundava a vagina, a paz que buscavam depois da tormenta, o sossego do amor natural.

E depois que os corpos repousavam, voltavam ao mundo comum, de pessoas comuns, onde escreviam e registravam sua história, onde os normais indagavam:
- Ficção?



sábado, 13 de setembro de 2008

sobre o título...


Mudei o nome do blog. Ao menos um pouco. Porque mudar é bom. E eu mudo a todo instante, como chama que acende e apaga e volta a acender por conta do vento que sopra a pequena fagulha e faz queimar a mata.

E mudo porque sou faiscante, caleidoscópica, quente, fria, morna, pelando, bicho, mulher, menina, mobília, sol, nuvem, chuva, fogo, amor, sexo. Sou muitas e sou nenhuma. Estou aqui e lá longe, onde minha imaginação permitir que esteja.
Sou subjetiva. Volátil. Evaporável. Sem rótulos, pois não se pode ser tudo ao mesmo tempo.
Acabo de quebrar um paradigma.

Verbum caro factum est...
"A palavra se fez carne", tomou forma em mim... E o contrário: tudo o que sinto torna-se verbo, materializa-se em signos e fonemas... O meu corpo fala, minha alma canta...

E se você conseguir dividir o mistério com todas nós (Andressa, Nina, Marie, Genevieve, Juliette...), terá um harém ad aeternum...


quarta-feira, 10 de setembro de 2008

sobre a paisagem da janela...


Havia nuvens. Elas vinham por trás das colinas e espalhavam-se, sorrateiras, abraçando os morros verdes e mergulhando vertiginosamente em direção ao solo, como se fossem realmente tocá-lo. E elas vinham tão precisas que quase pude aspirá-las, que quase pude tocá-las com as pontas dos dedos.

O tempo parou do lado de fora da janela: aquela paisagem manteve-se estanque para ilustrar o sonho que eu sonhava acordada. Era o pano de fundo para a minha loucura.
E foi ali que entendi o quão doce pode ser a subjetividade do homem...


segunda-feira, 1 de setembro de 2008

sobre Salomé e o jovem cliente...

Passion - Antoine de Villiers - http://www.antoineart.com/nudes/love/pages/03_passion.htm

Ele era apenas um menino. Ela, uma mulher.
E tudo corria de acordo com sua vontade, mesmo que dissesse o contrário, mesmo que estivesse pagando pelos préstimos sexuais da misteriosa Salomé. Ela conduzia a dança, o beijo, a foda. Ela. Era a verdade avessa às convenções. E nem sempre ele podia compreender quantas ela era, quantas outras havia dentro dela. Sabiam-se apenas amantes, sem necessidade de compreensão absoluta do outro. Sabiam-se responsáveis pelas noites perturbadas e loucuras divididas. Sentiam-se atraídos pelo silêncio que selava sua cumplicidade, pelo mistério que rondava o amor sexual.
E quando a noite tornava-se taciturna, deixavam fluir as bestas que os acompanhavam, os demônios que os perturbavam e excitavam. E a puta subia no colo do rapaz, engolindo o sexo com a boca que tinha entre as pernas.
Ele apenas revirava os olhos, em êxtase. Os lábios balbuciavam desejos irreveláveis enquanto Salomé subia e descia, molhando as coxas e a virilha do amante.
Depois da explosão gozo, o jovem cliente partia carregando na pele o doce perfume de Salomé, levando na memória - com um sorriso no canto da boca - os sussurros da puta, sonhando com os mistérios que não pretendia desvelar.