EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

out of my mind...

Música muito louca...

Dobro os joelhos
Quando você me pega, me amassa, me quebra,
Me usa demais
Perco as rédeas
Quando você demora, devora, implora sempre por mais
Eu sou navalha cortando na carne
Eu sou a boca que a língua invade
Sou o desejo maldito e bendito, profano e covarde
Disfaça assim de mim
Que eu gosto e desgosto, me dobro,
Nem lhe cobro rapaz
Ordene e não peça
Muito me interessa a sua potência, seu calibre e seu
gás
Sou o encaixe, o lacre violado
E tantas pernas por todos os lados
Eu sou o preço cobrado e bem pago
Eu sou um pecado capital
Eu quero é derrapar nas curvas do seu corpo
Surpreender seus movimentos
Virar o jogo
Quero beber o que dele escorre pela pele
E nunca mais esfriar minha febre

[Luxúria]


quarta-feira, 29 de agosto de 2007

em branco...


Tentei escrever um romance.

Não havia sequer um momento feliz naquelas linhas.
Tentei escrever um romance.
Seria eu a personagem enclausurada no inferno das páginas daquela história sem fim?
Não sei.... Mas eu tentei escrever um romance.


domingo, 26 de agosto de 2007

Nina...


Os dias passavam mas Nina havia perdido a noção do tempo. Não sentia sono ou fome, o sol nunca brilhava. Brilharia o sol no inferno? Nina acreditava que não. Ali era sempre frio e úmido, cinza e mórbido. Nada parecia ter vida.

Tomou coragem e, pela primeira vez, desejou explorar o lugar. lembrou-se das estranhas criaturas que encontrou ali e percebeu que depois daquele primeiro contato nunca mais viu outro ser além do demônio. Estariam todos à espreita, esperando que Nina se descuidasse? Estranhamente, não sentiu medo.

À medida que entrava no pântano, mais frio sentia. O solo pegajoso congelava seus pés. Continuou caminhando, curiosa, à procura de algo vivo, algo que pudesse indicar-lhe uma saída daquele inferno.

Os pensamentos perturbavam Nina... pedaços de lembranças perdidas a confundiam. Já não sabia distinguir as lembranças do que viveu das insanidades de suas alucinações. Desejou poder enfiar as mãos dentro da cabeça e arrancar aquelas imagens sem sentido.

Continuou vagando sem rumo, até que tropeçou em algo que emitiu um som parecido com um gemido de dor. Olhou para o chão e viu uma pequena criatura, um pobre diabo, pequeno, sujo e acuado. Os olhos arregalados e a expressão de pânico revelaram que ele também havia sofrido. Nina agachou-se e estendeu-lhe a mão, mas a pequena criatura encolheu-se, como que com medo de ser ferido novamente.
- Não vou machucá-lo - disse Nina.

O homenzinho continuou encolhido, observando todos os movimentos dela. Nina sentou-se lentamente a seu lado e permaneceu quieta. Ambos precisavam do silêncio da companhia do outro...


sexta-feira, 24 de agosto de 2007

os degraus...

Não desças os degraus do sonho
Para não despertar os monstros.
Não subas aos sótãos - onde
Os deuses, por trás das suas máscaras,
Ocultam o próprio enigma.
Não desças, não subas, fica.
O mistério está é na tua vida!
E é um sonho louco este nosso mundo...

[Mário Quintana]



quarta-feira, 22 de agosto de 2007

times like these...


"...

I, I am a new day rising
I'm a brand new sky
To hang the stars upon tonight
I, I´m a little divided
Do I stay or run away
And leave it all behind?

It's times like these you learn to live again
It's times like these you give and give again
It's times like these you learn to love again
It's times like these time and time again"
times like these we stop and think: life is damn fragile.... isn't it?


sexta-feira, 17 de agosto de 2007

nós, os "doces bárbaros"...

"O que me impressiona, à vista de um macaco, não é que ele tenha sido nosso passado: é este pressentimento de que ele venha a ser nosso futuro."

[Mário Quintana]


quinta-feira, 16 de agosto de 2007

o beijo...


Com as pontas dos dedos e os olhos fechados desenhava o contorno daquele rosto no ar. Sabia exatamente o formato dos olhos, os traços do nariz, o desenho da boca.

A boca... Os dedos pararam na boca e recordações encheram-lhe o peito. Mesmo após tanto tempo, ainda sentia o gosto daquele beijo. Música tocava toda vez que os lábios se encontravam. Ouvia-se apenas a música e a respiração; os outros sons eram abolidos do mundo e o tempo parava para observar os amantes. Palavras tornavam-se desnecessárias e pequenas...

"It tastes like sweet sand that melts in your mouth..." Just like the pear of the movie...



domingo, 12 de agosto de 2007

numbers...

An interesting number: 99,997793

aos dezenove...


Tinha apenas dezenove anos... e sentia todas as dores comuns à idade.

Lembro-me que aos dezenove anos conheci e experimentei tudo o que senti vontade: provei prazeres e dores. Algumas coisas deixaram marcas. Outras, apenas uma vaga lembrança. E, assim como ela, também me disseram que estava enlouquecendo. Também me fizeram tomar remédios. No fundo, o que incomodava (e ainda incomoda) as pessoas era a minha liberdade e o meu destemor (palavra interessante...): sempre fiz tudo o que quis, principalmente naquela época. Ainda carrego um rótulo de bipolar... mas hoje tenho minhas dúvidas...

A dor dela é parecida com as dores que senti. A única diferença é a forma como fazemos transbordar os sentimentos. Mas não faz diferença: a autoflagelação acontece, de uma forma ou de outra. Sempre há uma culpa, uma sensação de que erramos ou de que poderíamos fazer melhor... A raiva que surge lá dentro corrói... por breves instantes...

Com o tempo percebi que não era meu cabelo ou meu corpo que me incomodavam, mas o fato de buscar referências onde não havia referências... Aos poucos descobri que a mente é cheia de cantos escuros, e que em alguns deles encontramos espelhos... Mas precisamos estar de olhos abertos para enxergar nosso reflexo. Aquela sim, é a imagem de quem realmente somos... Ou seja... quer saber quem você é? Olhe para dentro...

Um dia você terá trinta... e saberá do que estou falando...

(this post is dedicated to P.B.)



quinta-feira, 9 de agosto de 2007

fernando pessoa...


" Sossega, coração! Não desesperes!

Talvez um dia, para além dos dias,
Encontres o que queres porque o queres.
Então, livre de falsas nostalgias,
Atingirás a perfeição de seres.

Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
Pobre esperença a de existir somente!
Como quem passa a mão pelo cabelo
E em si mesmo se sente diferente,
Como faz mal ao sonho o concebê-lo!

Sossega, coração, contudo! Dorme!
O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme,
A grande, universal, solente pausa
Antes que tudo em tudo se transforme."


terça-feira, 7 de agosto de 2007

dia de carência absurda...


Sempre há dias assim...

conselho de mãe...


- Não acredite em tudo que lhe dizem, minha filha...
- Eu sei, mãe... E quem disse que acredito? Eu finjo para poder viver. Até as inverdades dos outros têm utilidade às vezes...

Moral: Nunca minta pensando que tirará proveito da situação ou que nunca será descoberto... Você poderá, sem querer, entregar o florete ao outro espadachim.

E, para completar, Charles Baudelaire:

"Não se deve supor que o demônio só tente homens de gênio. Sem dúvida alguma, ele despreza imbecis, mas não lhes desdenha a cooperação. Muito ao contrário: é neles que deposita suas maiores esperanças."

Got it?

domingo, 5 de agosto de 2007

sábado, 4 de agosto de 2007

hope...


Havia perdido a noção do tempo. Acordara ainda tonta e com gosto de sangue na boca.

Olhou ao redor e percebeu que estava só. O demônio não estava mais por perto. Tentou levantar-se mas o corpo doía como nunca antes e sentia-se enjoada. Viu as marcas no corpo nu e lembrou-se... Imediatamente, golfadas de sangue quente saíram da boca de Nina, ao mesmo tempo em que lágrimas inundaram o rosto pálido.

Levantou-se lentamente e caminhou sem rumo, à procura de água; precisava lavar-se. Mais à frente encontrou um pequeno córrego. Entrou na água e mordeu os lábios, chorando em silêncio, imaginando que nem em mil anos conseguiria sentir-se limpa novamente. Nina assustou-se com seu reflexo na água: parecia mais velha e doente. De repente, ouviu novamente seu nome sendo sussurrado, o mesmo sussurro que ouviu quando jogou-se da torre. Atônita, saiu da água e permaneceu imóvel por alguns instantes, na esperança de saber de onde vinha aquele sussurro.

"Seria o vento?", pensou Nina. "Meu amor, estou aqui", dizia silenciosamente, com medo de que o demônio voltasse. Por um breve momento, Nina sentiu calor novamente, sentiu seu corpo sendo envolvido pelo vento, seu amante, e sentiu toda a dor passar. As pontadas em seu peito cessaram e a garganta parou de arder. Havia esperança... sentiu-se protegida.

- Não te iludas, minha pequena. Ele não vai mais te levar. Teu lugar é aqui, ao meu lado, no inferno - disse o demônio, aproximando-se.

E fez-se frio novamente. Só que desta vez, Nina sentiu que poderia esperar pelo vento. Sentiu que podia lutar. Talvez o dragão que surgia aos poucos dentro dela fosse algo providencial.


sonhos... segundo shakespeare...


"Há quem diga que todas as noites são de sonhos.

Más há também quem garanta que nem todas, só as de Verão.
No fundo, isso não tem importância. O que interessa mesmo não é a noite em si, são os sonhos. Sonhos que o homem sonha sempre, em todos os lugares, em todas as épocas do ano, dormindo ou acordado."

Shakespeare, Sonhos de Uma Noite de Verão

I've been dreaming with my eyes wide open... day-dreaming...

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

happy again...


Maeve, sentada à beira do lago, fazia círculos com as pontas dos dedos dos pés na água. O jardim nunca fora tão colorido. Flores exóticas surgiam por toda parte.
Adormecido em seu colo, o elfo sorria, como que sonhando. A fada lilás via estrelas cintilantes no céu azul de seus sonhos.
Pousou a mão suavemente sobre o peito do elfo, e pôde sentir as batidas do coração que nascera de novo por sua causa...
Maeve sorriu... Ele estava vivo... novamente... e ela desejava que ele nunca mais partisse...