EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

segunda-feira, 19 de março de 2012

infinitude

Há aqui estes cristais brutos. Estas pedras mal lapidadas e inacabadas. Um espírito atônito com uma aspereza bonita de sentir. Um corpo que se estira e esvazia e grita e cala a saudade do porto desconhecido, do que ainda está por vir. A saudade da completude do mundo que já era inteiro antes que se descobrisse mundo, com suas frestas e ranhuras e desfiladeiros - como aparenta quebrado o que é inteiro. E te antecipo resquícios de um futuro que salta aos olhos e me eletrifica a carne. Porque tudo é aspiração, delícia, erupção, maremoto. Tudo é espuma. Ganir. Abrigo dessa sombra que me protege e converte em outra - em outras. Sou toda humanidade e infinitudes. Desejos. Respostas gritadas no infinitivo - sem tempo - da tua língua.


quinta-feira, 15 de março de 2012

sem título X

no meio da noite acordada de hora em hora
há o silêncio que fere o espaço
que consome os nervos do corpo
não chove, não venta, não há estrela cadente
é escuro apenas
vazio de falta de sonho
silêncio de sonhares repletos de quereres
quereres de teus olhos tuas células teus atritos
teus desesperos de ser na esquina do mundo
onde o vento não faz a curva
porque é sempre reto quando olhas
é tudo ali e por toda a parte
saudade, fome, amares descoordenados
lonjura.
amor apenas.