EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

tempo

Passa rápido esse menino-tempo. De pensar, já passou. Passou correndo. O futuro começa quando termino a frase - presente, torna-se agora. Mas acaba de correr dos lábios que balbuciaram "agora" - eis que se torna passado. O que é o tempo, então? Esse moço, o tempo, é apenas um instante. Uma impressão ou antecipação do que virá no momento em que passa; um adeus ao que se vê e uma saudação ao que surge na rota de colisão. Eu amarei [em um minuto], eu amo [neste instante], eu amei [um minuto atrás]. Três tempos em sessenta segundos: parece-me tudo presente em sentidos e impressões. Passa rápido esse tempo-menino. Passa rápido porque não existe.

O tempo é uma dicotomia atemporal.

Eu amei [há vinte anos], eu amo [neste instante], eu amarei [conjugado no futuro sem prazo]

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

chuva

depois da chuva
vi-me inteira
rasgada de nuvem

porque gira o céu
no céu da tua boca
- meu sonho azul -

memória
convulsão
homem-vertigem
movediço
via de fuga escarlate
- foge pra dentro de mim -

depois da chuva.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

3:30

Há um monstro residente em mim. Onde vivem as coisas selvagens. Onde não há palavras bonitas. Onde não há palavras. Onde sou só instinto, bicho, fome, morte. Onde sou só esconderijo, caverna, lama. Onde sou lava. Onde sou escuro. Vazio. Tremor. Temor. Guerra. Tristeza. Insônia.