EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

sábado, 20 de setembro de 2014

entremeios

Eu te roubaria a vida
pra lamber verdades em tua boca surda
e despejar meia dúzia de loucuras na mudez dos teus ouvidos.
E se há desejo nesse vazio que se forma na sombra
da curva desesperada do meu hospício particular,
é aí que encontro os detritos do que me faz inteira.
É no vácuo que me transformo em mim.
É no espaço entre as palavras meu existir sem freio
sem modéstia ridícula ou retidão mentirosa.
É torto, torto o existir e as vírgulas.
E essa pausa-suspiro que separa mundos, arde
arde e confina os significados inteiros,
parte a língua e as virtudes imaginárias de quem diz.
Bebe essa verdade em goles largos
e respira fundo e lento
porque não tenho pressa.
Tenho horror e o horror me excita a pele
- combustível da infinitude sombria da minha clausura-inconstância.