EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

sexta-feira, 29 de junho de 2012

calares

Em cada palavra caótica
dessa gramática desalinhada
feito carne torta
afoga-se o entendimento
e se beija o pânico
a efemeridade do tempo
uma incredulidade arredia
de rasgar silêncios em brasa
e falares lacônicos
onde o calar é explícito
e o falar, demasia.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

tristeza

É triste não conseguir engolir. É triste a voz ficar presa na garganta - esse lugar tão vibrante de sentir. É triste não sentir os cheiros das coisas, não ver cor no dia, não querer sair do lugar. Ou mudar de pele quando ainda não é hora. Ou largar os vícios. Os sonhos. Ou sentir que o chão te falta, que a esquina é mais perto do que você imaginava, que o carteiro não passa mais na sua rua, que a música parou de tocar abruptamente. É triste não desejar. Ou desejar demais sem poder ter. Ou sentir sede, frio ou fome do que te é essencial, do que te faz vivo.
É triste esquecer.

terça-feira, 12 de junho de 2012

assim, bem simples e infinito

Eu queria te dar um presente diferente. É sempre tão difícil dar os presentes mais legais do mundo... Não, não estou falando dos presentes fáceis das vitrines... Eu queria te dar um presente infinito, sem prazo de validade, sempre presente, sempre.
Eu queria te dar um filho. Uma música, talvez. Um deserto inteiro. Três planetas. Aquelas nuvens enormes de tempestades. Todos os sorrisos do mundo. Um ornitorrinco imortal. Uma nave espacial. Uma viagem à Vênus (ou à Marte, a escolher). Um oceano cheio de vida. A fonte da juventude.  Um gato falante. Uma espada forjada por Hefesto.
Eu queria te dar um presente diferente porque te amo. E não é por causa desta data específica ou de qualquer outra que seja um marco nesse lance lindo que nós temos. É qualquer dia, qualquer hora, desde que dê vontade. É simplesmente porque você faz minha vida mais bonita, meus sorrisos mais largos, meus amanheceres mais azuis.

Eu te amo, Heinz Prellwitz.