EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

domingo, 31 de maio de 2009

ghosts appear and fade away...

Overkill
(Men at work)

I can't get to sleep
I think about the implications
Of diving in too deep
And possibly the complications

Especially at night
I worry over situations
I know will be alright
Perahaps its just my imagination

Day after day it reappears
Night after night my heartbeat, shows the fear
Ghosts appear and fade away

Alone between the sheets
Only brings exasperation
It's time to walk the streets
Smell the desperation

At least there's pretty lights
And though there's little variation
It nullifies the night
From overkill

Day after day it reappears
Night after night my heartbeat, shows the fear
Ghosts appear and fade away

I can't get to sleep
I think about the implications
Of diving in too deep
And possibly the complications

Especially at night
I worry over situations
I know will be alright
It's just overkill

Day after day it reappears
Night after night my heartbeat, shows the fear
Ghosts appear and fade away

segunda-feira, 25 de maio de 2009

sobre coisas simples


Ela escolheu cuidadosamente duas garrafas de vinho para aquela noite. Não havia avisado que faria algo especial, pois queria surpreendê-lo. Estavam há algum tempo juntos - tempo suficiente para incluí-lo em seus planos. 
Resolvida a questão do vinho, tratou de escolher as músicas que tocariam aquela noite. Queria que tudo fosse perfeito - talvez não perfeito, mas diferente. Sabia que era preciso ir além das coisas rotineiras como o bom sexo, a compatibilidade e a boa convivência para manter um relacionamento. 
Nada havia sido planejado, pois ela não era o tipo de traçar esquemas e planos; era tudo improvisado. Sua impulsividade a tornava especialmente atraente.
O ambiente parecia perfeito: boas músicas escolhidas, um bom vinho, velas pela sala e um aroma amadeirado agradabilíssimo no ar. Faltava apenas saber o que vestir.
Não haviam casado justamente por não quererem algo convencional que se tornasse morno com o passar do tempo, e a decisão de não dividirem a mesma casa também era pela mesma razão. Apesar disso, viam-se quase todos os dias e ele havia dado a ela a chave de seu apartamento, de modo que ela poderia aparecer quando bem entendesse para dormir com ele ou apenas matar a saudade.
Não havia avisado que iria aquela noite e ela sabia que ele estaria trabalhando até tarde. Queria realmente surpreendê-lo.
Entrou no banho e percebeu que o shampoo estava no fim. Ele sempre deixava acontecer, e isso a irritava um pouco. Mas estava bem, feliz, ansiosa pela noite que terminaria no melhor sexo que jamais experimentara.
Secou os cabelos e dirigiu-se ao armário; buscou uma camisa social dele e vestiu, sem nada por baixo.
Sentou-se no sofá e deixou a música tomar a sala, bem baixinho, sorrindo e lembrando de coisas que haviam passado juntos. Como todo casal, tiveram momentos deliciosos e miseráveis. Mas no final tudo acabava com um beijo e a promessa de que não se magoariam novamente.
O celular tocou dentro da bolsa.

- Alô?
- Oi, meu amor. Hoje é aniversário de um dos rapazes. Estamos tomando uma cerveja. Não tenho hora pra voltar. Você vai lá em casa hoje?
- Ahn... não sei... talvez...
- Tudo bem. Se não quiser, não precisa me esperar. Te dou um beijo enquanto você estiver dormindo. Te amo, viu?
- Ahãn... tudo bem. Mas acho que então não vou lá, não. Amanhã nos falamos então. Divirta-se.

Guardou o celular com o coração apertado e mortalmente ferida. Não havia o que cobrar, pelo o que brigar, o que questionar. Tinham tudo e não tinham nada. Haviam feito um pacto de liberdade. 
Recolheu as velas, desfez a mesa, guardou os cd's. Pôs novamente a camisa no armário e se vestiu. 
Pegou as chaves e, antes de sair, olhou novamente a sala, com um sorriso amargurado no canto dos lábios.

- É... eu também te amo.

E partiu.

POSTADO POR NINA


domingo, 24 de maio de 2009

COISAS SIMPLES II

COISAS SIMPLES II
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Enquanto guardava o celular com o coração apertado e mortalmente ferida, ela jamais poderia imaginar que alguém a observava à distância. E ao assisti-la recolher as velas e desfazer a mesa, guardando os cd’s - eliminando qualquer pista sobre a sua decepção - por pouco ele não desistiu de tudo e foi até o apartamento pedir desculpas. Mas o tempo de culpa e cobrança, se houve algum, já se passara. Sabia que não lhe diria nada, guardaria em silêncio aquela falta e eles continuariam sem mágoas. Não era a primeira vez que ele fazia algo assim e com certeza tão pouco seria a última: o que a deixava com a única escolha de aceitar ou não o seu homem como ele era. Embora ela colecionasse um passado considerável, nunca havia encontrado um homem que a fizesse sentir tão feliz e amada e que ela amasse tanto quanto ele; seu coração não lhe deixava escolha. No entanto mesmo sendo menos experiente ele também possuía seus próprios truques e ela se lembraria disso naquela noite.
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Caminhando desgostosa, a noite fria arrepiava sua pele e a rua vazia parecia querer intencionalmente fazê-la sentir-se ainda mais abandonada. Os olhos marejaram e em silêncio ela lutava contra as lágrimas que ameaçavam borrar a maquiagem. Passos ao longe a trouxeram a realidade, um vulto grande se aproximava rápido em sua direção. Os sentimentos confusos se transformaram em medo e raiva por estar sozinha, quando deveria estar tendo a melhor noite de sexo de sua vida. O ponto de ônibus estava longe e não havia ninguém por perto.
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A figura crescia e se tornava mais intimidadora a cada passo, ela apressou-se pedindo a Deus que tivesse algum lugar aberto no qual pudesse se esconder. Ela entrou em um bar prestes a fechar pedindo ajuda. Não bastava o constrangimento de ser perseguida, a situação se tornou ainda pior quando depois de alguns minutos ninguém passou por aquele trecho deixando-a com a impressão de ter forçado uma desculpa para encontrar uma companhia para noite. Envergonhada e desacreditada da divina providência, ela rapidamente se desvencilhou do novo embaraço e voltou a seguir o seu caminho, quando uma quadra adiante o vulto reapareceu.
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Dessa vez ele estava muito mais perto, o maldito a estava esperando, uma blusa com touca escondia seu rosto. Pensou em correr, mas o desespero fez suas pernas fraquejarem e em um instante o homem a alcançou e empurrou para um estacionamento. Tudo aconteceu muito rápido e ela não teve chance de reagir, chorando ela implorou ao homem que não a machucasse. O desgraçado olhando-a de cima a baixo, com uma postura cínica e maliciosa respondeu falando em seu ouvido e com a mão em sua garganta:
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“_Mas puta igual você gosta de apanhar.”
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Aquela voz! Ela conhecia aquela voz, era ele! Uma mistura de alívio, ódio, vergonha e tesão a invadiu e ela o abraçou desconcertada. Em seguida com os punhos fechados, quis atacá-lo. Ele, porém segurando seus braços a colocou contra a parede e com um tapa a pôs em seu lugar.
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“_Eu sei que você queria ser fodida quando foi me ver e é exatamente o que vai ter, mas do jeito que uma cadela como você merece, na rua.”
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Rapidamente beijou-a forte mordendo sua boca e arrancando sangue dos lábios carnudos. Os dedos foram buscar debaixo do vestido curtíssimo e dentro da calcinha a prova de que ela era uma cadela. Segurou seu rosto e a fez lamber o gosto de sua excitação. Ela estava tão molhada que parecia que ao invés de fazê-la passar por tanto terror, havia acabado de lamber os lábios que se escondiam entre suas coxas, mais carnudos e doces dos que enfeitavam seu rosto sem-vergonha. Obrigando-a a se ajoelhar, ele se desfez das calças e puxando-a com força pelos cabelos curtos guiou a pequenina boca vermelha de batom para engoli-lo de uma só vez.
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Ela inegavelmente excitada, começou a chupar a ponta do sexo dele produzindo movimentos com a língua iguais a de uma víbora. Com as mãos ela o masturbava e se masturbava; e estava tão encharcada que ele podia ouvir mesmo com os gemidos o som dos dedos se enterrando, lambuzados.
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O cenário invertera-se, agora era ela quem estava no controle. O gozo inevitável que sua boca coleante infalivelmente acarretava, tirava o domínio dele que travava uma guerra contra seu corpo para não gritar de prazer. Agarrou-se aos ferros da construção e com a voz embargada, avisou-a em tom de ameaça que não importava o que acontecesse, ela não deveria parar até ele atingir o orgasmo.
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Enfim os carros começaram a rodar naquele ponto esquecido da cidade e um, lotado de adolescentes bêbados chegou até a mexer rindo com a vagabunda que não agüentava chegar até o motel para chupar o pau do seu homem. Tudo isso alimentava a libido daqueles dois degenerados e quanto maior o perigo de serem capturados, mais ela se comprometia a excitá-lo, ora lambendo-o, ora passando o pênis em seu rosto, ora pedindo para sentir o gosto de seu esperma. E com isso mais ele inchava tornando-se impossível repreender o prazer que só lhe torturava só faltando fazê-lo chorar.
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Um líquido branco, pegajoso e grosso encheu a boca da mulher que engoliu cada gota com o rosto sôfrego, pois concomitante ao calor que descia por sua garganta, outro líquido quente gotejava na sarjeta sujando seus dedos. O urro que ele desferiu ecoou pelo céu noturno e enquanto se recuperavam, as janelas se acendiam dos prédios ao redor. Um minuto depois um carro com a placa “MAC...” parou no estacionamento e escondidos atrás de um arbusto no outro lado da rua eles mal puderam conter a risada ao ver um pobre coitado sujar o sapato no gozo deles. Diante dos olhares recriminadores das pessoas o infeliz xingou alto:
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“_Filhos-da-puta!”
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POSTADO POR "E AGORA JOSÉ?"

sábado, 23 de maio de 2009

a púrpura mente psicótica...


Não há mais voz. Ao contrário do que dizem, o som vem de algum lugar mais profundo que a garganta. Eu sabia, não podia ser tão raso. 
Por algum motivo, depois que as mãos ficaram sujas, não posso mais falar. Isso é ruim. Como vão saber o que penso? Os relatos, todos eles, estão trancados em minha cabeça, cercados por paredes intransponíveis, como uma fábula muda qualquer. E meu olhar perdido, pétreo, esse olhar me abandonou antes do anoitecer. 
Limpei as mãos na roupa, mas elas não desbotaram. Continuam da mesma cor, imundas da merda do sangue de gente louca. Como posso dizer que sou inocente? Mas eu sou inocente... não sou?
E agora, e esse caminho? Não é o meu quarto, não tem mais a minha cama, é apenas um caminho escuro que estou percorrendo descalça. Não é mais o corredor, nem o saguão, nem as escadas da entrada. Ficou tudo para trás. Agora que fugi, não sei que rumo tomar. Estão todos atrás de mim. Preciso da mamãe, da sopa quente, da canção de ninar. Mas mamãe não cantava. Não para mim. Preciso buscar o vestidinho roxo, aquele vestido púrpura que eu tanto gostava. Tudo era tão bonito e tão... púrpura. 
Preciso correr. Preciso tirar essa roupa e lavar as mãos, senão podem pensar que sou louca... ou que matei alguém.


sábado, 16 de maio de 2009

paranoia


Os olhos se abrem como se nunca tivessem fechado. O sono, o maldito sono não vem. O outro paciente continua balbuciando ininterruptamente. Deus, como eu queria que ele morresse para que eu pudesse dormir de novo. Aquela vida, não menos miserável que a minha, a ninguém mais importa. A ladainha entra em meus ouvidos e fazem minha cabeça crescer. Fecho os punhos e começo a socar o colchão. Alguém faça ele calar a porra da boca!
Não posso acender a luz; é proibido acender a luz. Se levantar da cama, posso cair. Eu sei que vou cair. Eles me entorpecem para que eu não fale, para que não conte ao mundo a verdade, a grande verdade. Todos têm medo que eu fuja, que desapareça. Então, o plano é me matar lentamente, para que no fim de tudo, eu confirme o que eles dizem - dizem que sou louca. Mas eu não sou louca, porra! É uma conspiração, são todos homens maus, doentes, uns filhos da puta! E querem que eu minta! Eles me perguntam o tempo todo, questionam, dizem que tenho alucinações. Mas não é verdade. Estou sã, lúcida.
Amarraram minhas mãos. Mas agora entendo que preciso fingir para que eles achem que estou domesticada, aceitando suas bulas de merda. Sorrio. A mulher pergunta se estou bem e pede para que eu prometa me comportar e em troca solta os malditos nós. Passa a mão pelo meu cabelo e diz que devo ser uma boa menina. Sorrio de novo. Agora há uma lâmina embaixo de minha língua. Preciso me preparar para fugir. E não há ninguém esperando do outro lado do muro verde.
Outra dose de entorpecente direto na veia. Cretina! Ela me enganou de novo. Eu sabia! Não se pode confiar em ninguém, são todos cúmplices. Agora não consigo levantar de novo. Como vou correr? Eles sabem de tudo, colocaram um rastreador dentro da minha cabeça. Está tudo ficando turvo, estou tão cansada...
Abro os olhos novamente e percebo que o tempo passou. Quanto tempo? Horas, dias, anos? Não sei. Está escuro de novo. Sinto um gosto estranho na minha boca. É sangue - a lâmina cortou minha língua. O outro começa a gemer e se balançar na cama. Está me deixando louca. É isso! Eles o puseram aqui para me enlouquecer! Será que ninguém entende?
Ah... pronto. Agora ele sossegou. Há silêncio novamente no quarto. Mas... estou de pé! Ao lado da cama do miserável. Ele... ele está sujo. O lençol está sujo, ficando vermelho. O pescoço dele... Coitado, ele precisa ser limpo. E eu quero dar uma volta...
O que esta lâmina faz na minha mão?


domingo, 10 de maio de 2009

blá-blá-blá...


É estranho falar em primeira pessoa. Sempre preferi criar metáforas e terceiras pessoas para dizer algo sem que me pusesse efetivamente no papel. Uma coisa é viver o inesperado, outra totalmente diferente é reconstruí-lo e ver exatamente onde errei, onde poderia mudar o rumo das coisas, onde poderia ter tido coragem para pular de algum precipício. Eu me reconstruo intencionalmente como qualquer pessoa: escolho as memórias, os fatos, as fotos. Escolho as personagens como escolho as roupas (já devo ter mencionado isso antes). 
Não fumo há cinco meses, mas não parei de beber. Às vezes penso em virar natureba, mas isso me tornaria letalmente chata. Confesso que sinto falta do cigarro - como agora - mas consegui substituí-lo sem problemas pelo chocolate (o que me rendeu alguns quilos). Também reduzi o café - e meu estômago agradeceu bastante. O cabelo curto - de novo - irritaria muito alguns, mas me deixa extremamente feliz. Sou uma espécie de Sansão às avessas, porque toda vez que preciso me livrar de um peso ou me sentir renovada, vou à tosa. E isso realmente me faz sentir mais leve - ao contrário do que dizem por aí, não acredito na convenção estúpida de que mulher precisa ter cabelo comprido. Quem estabeleceu isso? É mais uma balela cultural que a gente não faz idéia de onde surgiu.
É muito estranho escrever assim. Ao mesmo tempo é fácil, tudo sai numa prontidão incrível. Porque não preciso me disfarçar - ao menos não agora. Aqui há um reino sobre o qual tenho controle absoluto, mesmo que vez ou outra me perca nas minhas próprias gavetas. Sim, eu me perco. Mas quem se importa? Já não sei mais porque comecei a escrever isso.
E para terminar o blá-blá-blá nonsense, basta dizer:
- Vejam, vejam! A rainha está nua!
:)


segunda-feira, 4 de maio de 2009

como se fosse a primeira vez...


Ela entristeceu-se e achou que não houvesse mais novidade alguma, que não fosse mais tão interessante quanto antes, mas viu-se novamente surpresa: foi quando estava descalça, descabelada e com a maquiagem borrada que ele sorriu com os enormes olhos de cílios que apontavam para o céu, exatamente como na primeira vez...