EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

quarta-feira, 30 de abril de 2008

confissão em tempos de crise...

Eu tenho um lençolzinho de estimação...

vermelho...


Marie estava enlouquecendo. Lançava-se contra as paredes como se pudesse derrubá-las com o impacto. Olhava os hematomas em seus braços e sentia raiva. Rasgou a roupa e olhou-se no espelho, olhando as outras marcas em seu corpo: pela primeira vez sentiu aversão ao sangue que corria, lento e espesso, em suas veias. Sentiu vontade de vomitar.
Queria fugir dali, despir-se daquela pele, daquele que havia sido seu abrigo até então. Aquelas paredes estavam inchando ao seu redor; em breve sufocaria e seria engolida por elas. Nervuras surgiam de todo canto, como as veias que traçavam caminhos indecifráveis e sem destino por todo o corpo. Sentia vontade de fazer a lâmina reduzir a tensão daqueles vasos, como se numa explosão vermelha e quente tudo pudesse se acalmar.
Sentou-se no chão e, entre soluços e suspiros, cantou a música de sua infância. Os olhos injetados aquietaram-se aos poucos, à medida que a respiração voltava ao normal.
O dia havia apenas começado...

domingo, 27 de abril de 2008

sobre o amor, a música, a alma...


"O amor não se manifesta pelo desejo de fazer amor (pois isso se aplica a todas as mulheres) e sim pelo desejo do sono compartilhado (isso se aplica a uma só mulher)."

"A história é tão leve quanto a vida do indivíduo, insustentavelmente leve, leve como uma pluma, como uma poeira que voa como uma coisa que vai desaparecer amanhã"

"Para ele, a música é libertadora: ela o liberta da solidão e da clausura, da poeira das bibliotecas, e lhe abre no corpo as portas por onde a alma pode sair para confraternizar."

"Sentiu um peso, mas não era o peso do fardo e sim da insustentável leveza do ser"

Milan Kundera - A Insustentável leveza do ser

sábado, 26 de abril de 2008

pensamento do dia...

Os covardes fogem sempre, não de nós, mas deles mesmos: são omissos a ponto de se tornarem imperceptíveis.

Isso surgiu depois de uma breve análise sobre o comportamento desse bicho chamado homem (generalizando, pois não me refiro especificamente / somente ao sexo masculino)... Não existe raça mais babaca que a humana!

Um "viva" aos cães!
Auuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu!

(Agora eu quero um labrador...)

Postado por Nina


sobre a crítica e o senso comum...

Esses dias li alguns textos que falavam sobre excelentes artistas (de todos os segmentos) que foram massacrados pela crítica e depois endeusados por ela.
O mais assustador é como a sociedade acata esse vai-e-vem de opiniões alheias. Isso é algo que se assemelha à religião: é preciso estar reunido em um grande grupo e ouvir uma única pessoa dizer e explicar algo para que se forme uma certeza do que se trata.
Somos umas criaturas racionais e estúpidas. Enquanto seres racionais e inteligentes (há exceções), deveríamos ser capazes de ler, ver, ouvir, interpretar e julgar qualquer coisa de acordo com nosso próprio bom senso. Formar uma opinião própria (e diversa às outras) sobre todo e qualquer assunto.
Mas ainda temos essa necessidade doentia de escolher o filme de acordo com "O Bonequinho Viu", de comprar livros aclamados pelo "Verso e Prosa", de comprar roupas das grifes mais badaladas, saindo todos iguais, quase que uniformizados.
Então, devo dizer que não acredito nos que criticam. A crítica é algo pessoal.

Assim como grandes gênios foram considerados alunos medíocres, grandes artistas só tornaram-se grandes após sua morte, bons escritores foram e serão duramente criticados.

Por isso eu quero mais é que a crítica se foda!

Talvez seja culpa dessa minha insubordinação nata, dessa minha "fascinante insubmissão" (disseram-me isto ontem). Talvez eu realmente seja "
a shitload of trouble" - traduzindo: pura encrenca, adrenalina, nitroglicerina.
Eu gosto do que eu gosto, não do que dizem que é bom. Gosto do meu bom gosto. Gosto de filmes ruins, livros rasos, artistas trôpegos, telas cafonas. Tudo isso de acordo com os empoleirados críticos.

Por isso escrevo pra mim, não para os outros. Por isso tenho horror dos concursos literários. Por isso ainda não participei de nenhum. Mas acho que deveria tentar, ao menos uma vez, pela diversão de ler as opiniões dos senhores formadores de opinião. O que é ruim para eles ou para todos, muitas vezes me encanta.
Certa vez disse que rótulos e bulas de remédio são leituras de banheiro. Acrescentem "críticas" à lista.
Sou libertária e libertina demais para deixar que me rotulem ou classifiquem.
E quanto às críticas? Critiquem-me, por favor, sempre. Se darei ouvidos a elas, aí já é outra história...
Postado por Nina


sexta-feira, 25 de abril de 2008

a long walk from home...


Preciso andar, viajar, encontrar o caminho que me leva onde quero estar.
Quantas léguas separam-me do meu destino? E quem quer saber de destino? Eu sei que agora quero ir de encontro ao que desejo e encurtar essa distância para algo próximo, muito próximo, próximo a ponto de poder sentir a respiração inquieta e o hálito de vinho encostando em minha boca, com vento nos cabelos e frio na barriga.
Sempre há um campo verde. Mesmo quando o céu é nublado.
Não entendam. Foi apenas mais um devaneio.
Postado por Nina


quinta-feira, 24 de abril de 2008

tempo, tempo, tempo...

O tempo é uma incógnita, uma visão ilusória do real. O tempo nominal não tem relação com a intensidade das coisas vividas. O tempo não passa de um faniquito, de uma crise nervosa sem importância ou gravidade inventada pelo homem.
Por que contar o tempo, olhar os ponteiros do relógio, consultar o calendário?
Bastaria ver o sol nascer e se pôr para saber quando o dia começa e quando termina. Bastaria sentir no peito o amor para dizer que se ama, para sentir vontade de passar o resto da vida com o outro, sem se preocupar se ainda é cedo ou não. Bastaria viver para saber que a idade é um protocolo estúpido a ser quebrado, para continuar sendo criança ao envelhecer.
A quem importa o tempo? A mim, não.
Tempo é distância, e medí-lo significa distanciar-se do que é importante, pois o que realmente vale a pena não pode ser medido ou contado. O amor não é proporcional ao tempo que dura, porque amor não tem idade: é um eterno menino de calças curtas a pular corda.
No dia em que fui mais feliz eu vi um homem numa mula no acostamento da estrada. E vi um outro homem de tranças.
Quando foi isso? Não importa. Não faz diferença. Continua tudo aqui dentro de mim.
Postado por Nina

sete dias...

Um pouco de sangue no lugar errado, caminhando para outro lugar, mais errado ainda. Almejava a asfixia, golfadas de vermelho quente.
Foi então que percebi que a dor não deve ser suportável ou fazer parte do cotidiano. Se dói, está incorreto, imperfeito, precisa ser descoberta a origem do mal e aniquilá-la. Minha idéia de força mudou: ser forte não é suportar a dor, é combatê-la.
Incrível como a dor física se assemelha às dores de espírito: estupidamente nos acostumamos com elas.

Pela janela do quarto branco via o amanhecer e o anoitecer, o despertar e o adormecer entre os arranha-céus. Os imponentes gigantes formavam um conveniente corredor que me possibilitava ver, ao longe, a Ponte Rio-Niterói. Lá, eu sabia, estava o mar. E o azul do dia era entrecortado por aviões que chegavam e partiam, como nós - em relação ao mundo e à vida. A origem e o destino, neste caso, são meros detalhes, e o importante é o intervalo entre os dois.
Há sete dias, quando lá cheguei, a música que tocava insistentemente dentro de mim era "O último dia". Confesso de peito aberto e sem medo de parecer ridícula que o pessimismo - aquele miserável - tomou-me de assalto no início. Mas agora, mesmo ainda enclausurada no quarto branco, olho o sol pela janela e sinto que ele brilha dentro e fora do cômodo; vejo os aviões e aceno; olho a ponte e, com um sorriso, sinto vontade de mergulhar na água do mar de Ilha Grande.
Hoje convenci-me de que meus sentidos se aguçaram e modificaram: haverá pores-do-sol mais radiantes e alaranjados do que nunca; haverá dias chuvosos mais aconchegantes; haverá o romance ideal me acompanhando até o fim.
Hoje estou livre.
Hoje começo a (re)viver.
Postado por Nina

dois...

E ele era assim: único e indivisível. Estava inteiro o tempo todo, mesmo quando músicas em momentos inusitados traziam água aos olhos. Também sentia: sabia sentir como poucos. Havia descoberto um gosto diferente nas coisas, havia corrido os riscos e provado as tais nuvens.
Tornou-se gigante: lambia o céu e afastava com a língua as meninas brancas que insistiam em cobrir o sol. Conseguia, com um simples estender de braços, arranjar as estrelas de modo que a constelação certa ficasse na direção de sua janela, para que pudesse dormir olhando os pontos brilhantes formadores de desenhos que embalavam o sono dos amantes. Aproximava-se da lua, aquela indecente moça cíclica, e sorria para ela, em retribuição, durante seu quarto crescente. Gostava de valsar em meio a pessoas estranhas, em ocasiões estranhas, ocasiões em que apenas ele (e ela) sabiam decifrar os sinais dos corpos, o movimento dos olhos.
E os olhos... ah, os olhos! Aquele par brilhante e verde que confidenciava-lhe segredos em silêncio, cerrava-se entre cílios que se curvavam em direção ao céu. Os mesmos olhos não carregavam arrependimentos ou mágoas ou fardos que o fizessem pesar, que o tornassem grave. E isso, particularmente, o tornava especial.
E ela, tão múltipla e fragmentada, viu-se inteira, de repente. Não porque o considerasse sua metade, mas um convite à dança. Um inteiro interessante, único, musical, indecente, escandaloso, tão escandaloso quanto as partículas dela que novamente se atraíam e moldavam.
De braços abertos, entregou-se - integralmente - àquela música que somente tocava quando os olhos de argila perdiam-se no verde dos outros olhos; quando os pensamentos cruzavam o céu e a carregavam de encontro a ele, tal Psiquê carregada por Zéfiro até a morada de Eros...
Eram, enfim, dois.

(Postei esse texto no blog do José no final de semana antes da internação. Só agora percebi que não o tinha postado aqui. Gosto muito desse. Então, aqui está.)
Postado por Nina


back on the scene (II)...

Caríssimos,

Após um longo período afastada por motivos de saúde, estou de volta. Ainda em recuperação e de molho em casa, mas feliz por ter saído da clausura do hospital.

Voltemos à programação normal.

:)

PS: Zé, eu vou te matar por ter colocado essa foto horrível aqui... rs...

terça-feira, 22 de abril de 2008

AVISO


Caros leitores do blog EGO, venho aqui para dar satisfações sobre a ausência da nossa escritora delic... quer dizer, talentosa (e deliciosa mesmo, é verdade oras!) Andressa "Nina e todas as outras personagens que têm nomes em francês e que eu ainda não aprendi a escrever". Por motivos de saúde, ela estará até semana que vem, sem aparecer por aqui. Mas logo, logo, ela volta para a gente. Até lá, eu tento tirar a poeira por aqui, valeu?

domingo, 20 de abril de 2008

Saudade


Ai que saudade da saudade que eu estava, mas pensando bem, vai ser mais gostoso te ver quando você voltar. Cada vez mais forte, a saudade é a presença da ausência? Não a minha saudade, é a imponência sobre a minha impotência da distância, cada segundo é marcado por você.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Even Here, I'm Always There, With You

MESMO AQUI
.
Eu não meço a distância pelos passos
Só o espaço que cabe entre os meus braços
Não há como me convencer do contrário
.
Tudo por um abraço
Tudo por um sorriso
Onde quer que esteja
Um amigo é um amigo
.
Se for preciso
Se você precisa
Conte comigo
Que eu participo
De bom grado
.
Seguro sua mão
E compartilho do medo
Da escuridão
.
Me deixa sentir com você
Deixa eu te sentir
Sinta, abrigo
.
De mãos dadas
Asas quebradas
Unidos

sábado, 12 de abril de 2008

sobre o mistério...

Muito mais do que a sensação de estar; é mais fundo, mais enterrado na alma carregada de angústias e saudades. Havia a perfeição do imperfeito: tudo tão meticulosamente colocado à margem de nós, tão disfarçadamente passeando entre os passantes, que os deuses, apesar do poder de intervenção (será?), observam, curiosos e intrigados, essas criaturas - nós - tão cheias de mistérios e significações simbólicas que nem eles mesmos conseguem decifrar.
Contudo, parece-me absurdamente pretensioso que essa raça que se auto denomina moderna e evoluída queira compreender e despir os véus de todas as coisas.
Ora, se o que nos move é justamente a busca, talvez seja providencial que não se alcance todas as respostas.
A curiosidade é a mola motora. O mistério é o combustível.

Tudo isso me fez lembrar de 1994, quando fiz vestibular para Belas Artes e Desenho Industrial. Optei por Desenho Industrial. Ser designer parecia-me muito interessante. Moderno. A prova de Habilidade Específica para a faculdade de Belas Artes foi feita e passada com louvor. Mas a opção foi outra.
Foi quando, em 1995, na aula de Desenho de Observação, notei que 24 dos 28 alunos não conseguiam desenhar. Eu era um dos 4 diferentes do resto. Os outros 3 eram bons demais, desenhavam carros e máquinas, à medida que eu desenhava nus. Paulo (ou seria Marcos?), meu professor, chamou-me ao fim da aula e disse-me para largar a faculdade. Senti a garganta apertar; achei que ele fosse me dizer que eu não daria uma boa profissional. Frustrante para uma garota de 19 anos. E aí, a surpresa:
- Vá para Belas Artes, minha filha.
- Por quê?
- A grande diferença entre o artista e o designer é a alma envolvida no trabalho. Designers são solucionadores de problemas, quase cientistas. Artistas são anjos que resolveram passar um tempo por aqui e colocar a alma para fora.

Hoje, aos 32, percebo melhor tudo isso. E entendo que não sou moderna. Sou e não sou. Continuo querendo um pouco de tudo, mas sem a pretensão de saber tudo sobre esse pouco. Apenas não quero ser punida com a ignorância dos grandes.

(Meros questionamentos de uma alma que paira entre a arte e a ciência, o abstrato e o concreto, a vontade de saber e o pavor que o conhecimento me traz - esse conhecimento que fez - e faz - grandes homens, poetas ou senhores de guerras.)

Postado por Nina


antes do amanhecer...


Ele passou a unha suavemente pelo contorno das nádegas descobertas dela e sorriu. A brancura dava lugar a manchas vermelhas que desenhavam perfeitamente os dentes que haviam deixado ali sua marca durante a noite.
Sem que ela notasse, ele descobria e contava todos os sinais de seu corpo. Uma mecha vermelha caía sobre as pálpebras ainda coloridas do verde da maquiagem do dia anterior. Havia pêlos dele grudados na pele branca, por toda parte; as marcas das garras eram como sangue pisado, tamanha força imprimira para agarrar-lhe as ancas, enquanto - literalmente - a comia. Era animal, e gostava de pensar e agir como tal no que dizia respeito à satisfação de seus instintos.
Com uma das garras, afastou a mecha de cabelo que cobria o rosto adormecido. A pequena boca em forma de coração estava vermelha e inchada. Era um vermelho tão intenso que reavivava sua memória e o fazia rosnar baixo, com os sentidos já excitados. Com a boca entreaberta e o sexo pulsando, descobriu inteiro o corpo que ali repousava, indefeso. Encostou-se nela e arfou bem próximo de sua orelha; o hálito morno carregado de desejo rosnava para que ela despertasse. Por trás, afastou-lhe as coxas, buscando o caminho quente que tanto desejava. Ainda sonolenta, abriu os olhos e sentiu o roçar bruto entre as pernas, já molhada. Ainda dolorida da força que ele havia usado na noite anterior, soltou pequenos gemidos de dor quando sentiu a carne queimando por dentro novamente. E apesar da dor, queria mais, mais fundo e mais forte. Queria estocadas que a fizessem gritar, rir, chorar de dor e felicidade. O animal a possuía com paixão e raiva; ela, aquele anjo, libertou-se das asas castradoras de sentimentos para entregar-se à perdição. E sentir tudo ao mesmo tempo era tão estranho e intenso que por vezes pensava que não era real, pensava que fosse talvez uma espécie de transe hipnótico. Mas as contrações que nasciam no ventre anunciando o que os homens chamavam de "gozo", a faziam crer que aquele sim era o paraíso, carregado de toda a delícia de ser e existir.

Postado por Nina
(escrito antes do "reencontro"...)


quinta-feira, 10 de abril de 2008

Logo pela manhã

O DIA DEPOIS
.
Não havia a ansiedade e a dúvida de quem está prestes a conhecer alguém, pela primeira vez. Havia saudade de quem está prestes a reencontrar alguém que se esperava há muito tempo. Tanto tempo, que quando os minutos e segundos marcavam o tempo que corria até os braços de quem se ama, não existia como não se perguntar como se conseguiu viver até então no esquecimento da pessoa amada.
.
Juntos, tempo não existe. São momentos pra vida inteira, que sobrevivem e nos alimentam enquanto no futuro acordarmos com saudades. Uma outra saudade, a tal tristeza-feliz, que esboça sorriso e lacrimeja os olhos quando o pensamento cruza a distância que nos separa é que se instala. Rememória pacífica, doce. Os sentidos jamais serão os mesmos.
Fome, sede, tortura, clemência, dormência, mais e mais. Na paz e na guerra, de mãos dadas. Quando se amam, viram bichos. Animais. Felizes. Como se sonhou, e, no entanto, incomparável a qualquer promessa, profecia ou presságio. Há certas coisas que só podem ser ditas com beijos, as palavras não traduzem tudo.
.
Nem as noites, juntos; é preciso a vida inteira pra se fazer compreender todo o amor, e mesmo ela, a vida, talvez seja pequena para mostrar toda força que é o que se sente. Uma vida é pouco para te dizer o quanto te amo.
.
10/04/2008

Postado por José

domingo, 6 de abril de 2008

...


"Your smile's a butterfly

Your eyes a two flames fire
Your skirt around my nights like a summer moon
Lighting up my place but still not mine to hold

Here I am and here I'll stay
Here I am
Forever at your mercy

Your skin's a forbidden dream
Your taste a cool grapevine
All you give is grace and beauty in trembling shades
Please just realize you've got me hypnotized

Here I am and here I'll stay
Here I am
Forever at your mercy"

- lyrics and music by Ashram


sábado, 5 de abril de 2008

"sim", mesmo quando dizem que "não"...


Com os olhos vermelhos e inchados ela não o encarava. Dizia que não o amava. Dizia que queria ir embora. Pedia para que não a procurasse mais.
Não sabia gostar. Ainda pior: não sabia ser gostada. Estava sempre correndo, fugindo daquela coisa que a imobilizava doce e lentamente. Escorregadia, balbuciou palavras robóticas e sem sentido, parecendo ainda mais louca e descontrolada. Enquanto ele abria o peito e chorava (de dor e raiva) falando de seus sentimentos, ela cantava músicas dentro de sua cabeça para que as palavras e as lágrimas não a afetassem.
Tapou os ouvidos com as mãos e gritou, pedindo que ele fosse embora, que sumisse, que fosse feliz com outra pessoa. No fundo, ela queria que ele a calasse como de costume, com beijos que, entre soluços, sal e línguas, acabavam na cama. E a trégua era instaurada entre os lençóis, depois das palavras brutas. Machucavam-se e depois lambiam as feridas do outro, como animais. Às vezes, achava que acabariam se matando e que seria necessário partir. Tentava, mas da mesma forma que o sonho escapa do controle do sonhador, faltava-lhe a razão necessária para fazer as coisas como pensava que deveriam ser feitas...


inferno...

Eu desafiei o diabo... agora percebo que ele também é um grande inquisidor.
Respondi "não" a todas as perguntas que me fez. Omiti o que era importante e precioso, com medo de que ele descobrisse minhas fraquezas. Talvez ele tivesse lido a verdade em meus olhos. Ou talvez eu realmente tenha conseguido enganá-lo...


sexta-feira, 4 de abril de 2008

Bossa Nova Blues - Metade (Oswaldo Montenegro)



Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio.

Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.

Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que falo
Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
E que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que penso
Mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste
E que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Por que metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade eu não sei.

Que não seja preciso mais que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é a platéia
A outra metade é a canção.

E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.

OSWALDO MONTENEGRO

POSTADO POR JOSÉ

Bossa Nova Blues - Drummond



Você meu mundo meu relógio de não marcar horas; de esquecê-las. Você meu andar meu ar meu comer meu descomer. Minha paz de espadas acesas. Meu sono festival meu acordar entre girândolas. Meu banho quente morno frio quente pelando. Minha pele total. Minhas unhas afiadas aceradas aciduladas. Meu sabor de veneno. Minhas cartas marcadas que se desmarcam e voam. Meu suplício. Minha mansa onça pintada pulando. Minha saliva minha língua passeadeira possessiva meu esfregar de barriga em barriga. Meu perder-me entre pêlos algas águas ardências. Meu pênis submerso. Túnel cova cova cova cada vez mais funda estreita mais mais. Meu gemidos gritos uivos guais guinchos miados ofegos ah oh ai ui nhem ahah minha evaporação meu suicídio gozoso glorioso.

POSTADO POR JOSÉ

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Mãos Dadas


Nós
Eu e Ela
Sol e Lua
Rio e Mar
Cão e Gata
Bar e Bistrô
Barba e Pele
Lobo e Onça
Sapo e Bruxa
Olhos e Boca
Poeta e Musa
Suave e Seco
Sátiro e Ninfa
Menino e Nina
Som e Imagem
Espinho e Rosa
Soneto e Haicai
Urso e Docinho
Dentes e Língua
Lupercus e Aera
Beija-Flor e Flor
Viking e Valkíria
Andorinha e Fada
Tranças e Cachos
Verde e Vermelho
Tubaína e Guaraná
Casa e Apartamento
Blues e Bossa Nova
Madrugada e Manhã
Mariposa e Borboleta
Barreira e Corcovado
Cenário e Personagem
Sartre e Simone de Beauvoir
Nelson Rodrigues e Elvira Pagã
Carlos Drummond e Clarice Lispector
Pedra que o Rio Cavou e Rio de Janeiro
.
Ou, quem sabe, tudo ao contrário.

sobre os inconvenientes...

Mário Quintana disse algo sobre os chatos... Quero lembrar onde li e não consigo...
Os inconvenientes são insistentes. E os insistentes são naturalmente chatos (putz... algum filósofo moderno ou psicanalista deveria fazer uma tese de mestrado ou doutorado sobre isso - daria uma excelente pesquisa).
Resumindo: gente chata é uma merda!