EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

sábado, 29 de janeiro de 2011

janeiro

Queria sair e ver a neve. Era janeiro. Não nevava. Deixou a maçã vermelha sobre a mesa e foi à janela. Simplesmente não nevava. E seria extremamente necessário que nevasse naquele momento, porque ela queria que o inverno chegasse em janeiro - mas era verão naquela terra. Mas mesmo que o inverno viesse fora de época, não nevaria ali. Poderia desejar as tardes outonais, mas imaginava os amanheceres do inverno como em sonhos infantis, com o céu de aurora boreal da Nova Zelândia. O verão esfregava-lhe a liberdade na cara, mas desejava mais que tudo a paz nevada do inverno. Mas não queria que o inverno durasse para sempre: dois ou três dias, talvez. Depois o mundo poderia voltar ao normal.
Voltou à mesa e pegou a maçã vermelha. Cravou-lhe os dentes e saiu à rua - porque a maçã estava doce e era manhã ensolarada de domingo. Era janeiro de maresia.

[e não é que as boas surpresas sempre acontecem em janeiro? coincidentemente, sempre em torno do dia 24... que vida, essa...]

2 comentários:

Claudia disse...

Compreendo, agora, porque você citou Clarice Lispector!

I'm Nina, Marie, etc... disse...

Diga-me, então... Por quê?