EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Narcisa...

Ela caminhou à beira do riacho e debruçou-se à sua margem. Olhou-se no espelho d'água: tão branca, tão bonita, tão grave. Narcisa queria mergulhar, mas não sabia nadar. Narcisa precisava se encontrar; queria amar a si mesma.
Os dedos tocavam a pele do rio e encontravam outra mão, tão suave quanto a dela. Narcisa apaixonara-se. Oh, céus! Daria o mundo para beijar a outra face!
Narcisa arrastou-se, aproximando-se dos lábios rosados e perfeitos do outro rosto. Aproximou-se mais. Pôde tocá-los, mas tão logo os lábios encontraram-se no espelho, foi sugada pela outra. Foi sugada por si mesma. E perdeu-se. Tudo que a floresta ao redor testemunhou fora o eco do único beijo de amor que Narcisa jamais dera. E as águas se apaziguaram por um longo tempo...

Postado por Nina & José

7 comentários:

E agora José? disse...

E perdeu-se. Tudo que a floresta ao redor testemunhou fora o eco do único beijo de amor que Narcisa jamais dera. E as águas se apaziguaram por um longo tempo...

Muito bom, adorei. E não se esqueça da história de caminhoneiro, hein?

I'm Nina, Marie, etc... disse...

Adorei esse finalzinho...
VOu colocar no post. Posso?

I'm Nina, Marie, etc... disse...

O caminhoneiro está na minha cabeça... Não esquecerei...

E agora José? disse...

Pode colocar, claro. Eco e Narciso, foi exatamente essa a peça que estão encenando por aqui.

I'm Nina, Marie, etc... disse...

Agora, sim... Escrito a quatro mãos.

Ricardo Augusto disse...

Excelente, como sempre!

I'm Nina, Marie, etc... disse...

(bochechas vermelhas...)
Mentira! Eu sou narcisista! hahahahaha!