EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

sábado, 5 de janeiro de 2008

Adèle, la sorcière...

A jovem Adèle estava fadada à solidão por pertencer a uma velha linhagem de bruxas. Suas irmãs, Astrid e Chantal, não importavam-se com o destino amargo e as noites de solidão que se seguiriam, mas a alma de Adèle chorava em silêncio quando olhava o calendário lunar.
- Vê a lua, Adèle? - perguntava Astrid.
- Sim.
- Acostuma-te com ela. Será tua única companhia fiel até que teu corpo liberte tua alma.
- Sim...

E assim Adèle passava os dias, os meses, os anos. Enquanto as irmãs fartavam-se de amantes, a jovem bruxa vagava pelas florestas escuras, maldizendo sua sorte à luz da lua.

E foi chorando que numa noite de lua cheia sentiu alguém aproximar-se. Assustada, Adèle quis correr, mas a mão do cavaleiro segurou firme seu braço. Olharam-se e souberam que o encontro havia mudado seus destinos aquela noite.

Sem que uma palavra fosse trocada, os lábios encontraram-se. Amaram-se como antigos amantes. E, em silêncio, seguiram seus caminhos.

Depois daquela noite, encontraram-se em todas as noites de lua cheia no mesmo lugar. E toda vez que o cavaleiro fazia menção de balbuciar palavras ou declarações de amor, Adèle tocava seus lábios com as pontas dos dedos, pedindo - apenas com o olhar - que ele nada dissesse, pois sabia que enquanto houvesse o silêncio e a ausência de juras de amor, teria sua companhia, mesmo que furtiva, nas noites de lua cheia. Até o dia em que seu corpo libertasse sua alma...


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