EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

sexta-feira, 21 de março de 2008

sobre o sofrimento...

Ainda lendo Artur da Távola. Genial.
Cheguei a uma crônica super interessante sobre sofrimento (Sou eu que faço você sofrer ou é você que sofre por mim?).

Segue um trecho bem esclarecedor:

"(...)
Se sou eu que faço você sofrer, então são meus atos, atitudes e ações as geradoras do seu sofrimento. Nesse caso, ou mudo, ou continuarei lhe provocando sofrimentos. Tudo passará a ser uma questão de conseguir (será possível?) fazer cessar aqueles meus atos, ações, atitudes, comportamentos feitos (consciente ou inconscientemente) para você sofrer, por sadismo, egoísmo, incapacidade de perceber as fronteiras de sua tolerância, ou por raiva, vingança, neurose.
Mas se é você que sofre por minha causa, então tudo fica diferente, embora possa parecer igual. Os meus atos, atitudes, reações, comportamentos, mesmo sem qualquer intenção, ofendem, fazem mal, danificam, fazem sofrer. Por quê? Porque você sofre por minha causa. O sofrimento não é causado por mim. Ele está em você e eu o causo, indiretamente. Mesmo fazendo tudo para você não sofrer, pelo simples fato de ser como sou, você está sofrendo. Não sou eu quem faz você sofrer. O sofrimento é causado por mim. Ser o que, quem e como sou, faz você sofrer, irrita de graça, machuca sem querer."

Particularmente, fico com a segunda opção. Preferimos culpar os outros por nossos sofrimentos e misérias, quando, na verdade, a coisa toda está enraizada em nós.
Somos miseráveis por necessidade, uma necessidade doentia de sentir dor. Eu mesma me faço miserável às vezes. Mas sei que o sofrimento, mesmo sem razão, vem de dentro para fora, nasce no peito e transborda pelos poros como suor.

Uma hora alivia. Como o choro.
As lágrimas um dia secam.


5 comentários:

Andréa Ferraz disse...

Engraçado Nina...estou neste momento me martirizando internamente com uma coisa que só está em mim...esse sofrimento me angustia, mas sei que irá passar, mas sei que preciso dele por hora...ou não?
Será que as vezes temos necessidades reais de sofre por nada?
Por coisas que alimentamos sozinhos e sozinhos nos livramos dessas mesmas coisa?
Depois nos achamos patéticos e até bizarros...mas quem não os fez?
Quem não causou o próprio sofrimento por necessidade, auto piedade e depois passou?
Acho que fazemos isso como um instinto humano ou não?
Tem horas que não sei se sou humana ou não...rs...patético!!!

E agora José? disse...

Não sei se o sofrimento é necessário, a dor, sim. A dor é o que nos faz mudar, e mudar, invariavelmente deve ser pra melhorar. Sou eu que te faço sofrer ou é você que sofre por mim, troque o sofrer por fazer feliz e mude as perspectivas.

Andréa Ferraz disse...

Pois é Rodolfo, parece fácil mas nem sempre, mas sei que não é impossivel também...valeu!!

Priscila disse...

Segunda opção, com certeza. Eu que o diga.

Ricardo Augusto disse...

E não é a dor indicativa de que algo está errado? Por esse lado ela é sim necessária na medida que nos mostra que algo (em nós mesmos ou no ambiente) tem que mudar. Porém, por outro lado, a necessidade dela limita-se a um simples aviso... ela não deve ser cultivada... e tanta gente faz isso. Ao menos a dor nos traz a certeza de que ela vai passar um dia, nem que nos mate. A triste incerteza é quando ela vai passar...