EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

quarta-feira, 19 de março de 2008

indagações (talvez) existencialistas...

Tenho idéias existencialistas, sim (e sou exaustivamente repetitiva também, eu sei...). Talvez aquele papo sobre moral e ética tenha mexido um pouco mais (além do conveniente) com a minha cabeça, que, diga-se de passagem, é um canto que divide-se entre a subjetividade filosófica e a objetividade científica. Complicado isso. Mas uma coisa acaba conduzindo a outra e vice-versa. Sempre há um ponto de partida (acho que era essa a expressão que o professor de sexta-feira estava tentando buscar quando disse que o conhecimento mítico servia de "entusiasmo" para o conhecimento científico): ponto de partida. Daí, vêm os caminhos e a expectativa pela linha de chegada, pelas respostas. Nem sempre as encontraremos. E até acredito que encontrar algumas (muitas) delas seja deveras frustrante.

Bem, ontem, durante minhas andanças pela cidade, passei por um sebo ao ar livre e - obviamente - não pude conter o impulso de comprar alguma coisa. Acabei trazendo "Diálogos" (Platão) e "Alguém que já não fui" (Artur da Távola). Já havia lido muitas crônicas dele (Távola), mas nunca um livro inteiro. Como o livro era de crônicas, achei interessante dar uma olhada.
Estou chocada. Apaixonada. Quase dormi com o livro embaixo do travesseiro. Descobri que ele nunca havia sido lido (apesar de antigo), pois algumas páginas não estavam bem refiladas, ou seja, estavam juntas, apenas dobradas. E descobri também que o livro está autografado pelo autor (!!!), datado de dezembro de 1978. Eu tinha apenas 3 anos.
Descobri ainda certas "tendências" existencialistas em algumas passagens do livro, quando fala do ser e do estar, a infelicidade que vem de dentro, e não de fora, não dos outros. Lindo. Perfeito. Cheguei a chorar (essas minhas alterações hormonais acabam comigo). Mesmo assim, não tenho a pretensão (nem de longe!) de dizer que o autor concordaria com meu ponto de vista. Até porque eu mesma (apesar de ter certos pensamentos existencialistas) acho que há algo muito contraditório na filosofia. A questão da alma, por exemplo. Eu acredito na alma, na essência. Acredito que é justamente pela alma, por causa dela, que o exterior tem um peso menor. É a questão de ser único, de agir mesmo de forma amoral, porque a sua alma clama por isso. É não querer seguir algumas normas, porque a sua visão do mundo é diferente do que lhe disseram. É enxergar mais, ver além, querer descobrir o que há por trás das portas, dentro dos baús trancados. É não caber dentro de si. Seguir normas e ordens é fácil. Decidir o que fazer requer esforço, reflexão, interiorização.
No final das contas, não posso dizer que sou existencialista. Sou a favor da liberdade individual e da subjetividade do ser humano. Mas a minha ignorância (sim, eu sou ignorante), não me permite separar alma e existência. Até porque não há regras sem exceções ou verdades absolutas, nem mesmo filosofias que não sejam questionáveis.
E eu sou contraditória. E subversiva. Assumidamente subversiva.

2 comentários:

E agora José? disse...

Digo pelo pouco que você me mostrou do Artur da Távola, que ele é bom, muito bom. E concordo quando você diz que o existencialismo peca ao se esquecer da alma, da essência. Filosofia é muito interessante, mas não dá pra encaixar em tudo de qualquer maneira, não é panacéia, o existencialismo geralmente é o que confronta o conformismo natural: "sou assim mesmo, me fizeram assim". Esse pensamento praticamente medieval por incrível que pareça ainda faz sucesso com as pessoas, embora esteja claro que simplesmente, a responsabilidade das nossas vidas, é nossa. Não há como dizer que somos únicos, especiais, se não levarmos em conta que a essência de cada um é o que torna as pessoas o que são, ou, a alma. Ou ao menos, é essa essência um dos principais componentes do que uma pessoa é. Há mais coisas entre o céu e a terra do que desconfiamos, entre uma pessoa e outra do que podemos supor. Até claro, que provem o contrário.
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Perguntas pra dar nó na cabeça:
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A sociedade serve para corromper o homem. (Será?)
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Se for assim, ela também é capaz de salvá-lo?
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Deixe os mártires de lado, salve-se! Ou então, assuma sua culpa e suba na cruz, ninguém, mesmo morrendo, pode tirar o peso das suas responsabilidade e méritos.
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Quem é capaz de assumir os riscos da própria vida?

Andréa Ferraz disse...

É Rodolfo...complicado mesmo é assumir todo esses erros e acertos em nossas vidas. São raros os que tem coragem de subir na cruz e admitir seus próprios erros, mais fácil jogar a culpa na já tão corrompida sociedade...mas afinal quem corrompeu quem nesta pergunta tão subjetiva?