EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

domingo, 23 de março de 2008

para me (des)entender...


"Inútil querer me classificar,eu simplesmente escapulo não deixando. Gênero não me pega mais."

"Aceitar-me plenamente? É uma violentação de minha vida.Cada mudança, cada projeto novo causa espanto:meu coração está espantado.É por isso que toda minha palavra tem um coração onde circula sangue."
(Um sopro de vida)

"Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender.
Entender é sempre limitado.
Mas não entender pode não ter fronteiras.
Sinto que sou muito mais completa quando não entendo.
Não entender, do modo como falo, é um dom.
Não entender, mas não como um simples de espírito.
O bom é ser inteligente e não entender.
É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida.
É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice.
Só que de vez em quando vem a inquietação:
quero entender um pouco.
Não demais: mas pelo menos entender que não entendo."

"O que obviamente não presta sempre me interessou muito. Gosto de um modo carinhoso do inacabado, do malfeito, daquilo que desajeitadamente tenta um pequeno vôo e cai sem graça no chão."

Tudo de Clarice Lispector. A descrição perfeita (ou não) do que sou... a melhor forma de me (des)entender, mesmo sabendo que não é possível rotular o que não se pode definir.


Um comentário:

E agora José? disse...

Eu quero a emoção da descoberta, Clarice torna o teu mistério maior, ainda mais atraente, surpreendente. Conhecer você através da Clarice, é saber que é preciso ser sensível para sentir, mais do que saber e provar que se conhece, é repartir a dúvida. Tornar-se parte do enigma dançante.