EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

quarta-feira, 26 de março de 2008

o homem do fim do mundo (repostagem)...


Ele caminhou por horas sem saber seu destino. Chegaria a algum lugar, em algum momento. Mas como saber onde parar? Como saber o que o esperava? Precisava de um sinal. Um sinal divino, que fosse. Mas não acreditava em Deus. Não acreditava no que não estava ao alcance de seus dedos, de seus olhos, de seu controle. Em sua mente racional e sistemática, haveria de haver razão para tudo, explicações para todos os fenômenos. E perguntava a si mesmo e aos outros o que não tinha resposta. Ele mesmo as respondia, tentando calcular e investigar os limites do que não podia ver, mesmo sabendo que o subjetivo era incalculável, sem regras, desconcertantemente hipotético. Precisava provar, talvez ao mundo, talvez a si mesmo, que o que chamamos de "amor" era apenas um desencadeamento de ações provenientes de reações químicas, nada mais. Estava carcomido por dentro. Pensar que um gesto poderia ter mudado todo o rumo de sua história o consumia. Talvez não o gesto em si, mas a palavra final. A palavra final decidiu o destino do mundo, de seu mundo particular, infinitamente correto. Sabia que continuaria andando. Só. Míope. Trôpego.

Era o homem da ciência. Era o homem do fim do mundo. O homem que matou a insanidade; a loucura e a liberdade de amar.


Um comentário:

E agora José? disse...

Nem toda jornada leva a algum lugar.