EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

sábado, 21 de junho de 2008

ontem e hoje...

Quando eu era menina, pensava muito no que seria quando crescesse. Sempre fui fervorosa amante da Língua Portuguesa, mas sonhava em ser grande artista. Desenhava bem, mas não gostava de pintar. Gostava de construir coisas - quando prestei o vestibular para Belas artes, optei por escultura.
Aos sete anos, fui trabalhar na tv e no teatro. Era desinibida diante de câmeras e platéias, bem mais desenvolta e subversiva do que hoje. Hoje prefiro a "quase-misantropia"...
Sempre falei demais, o que deixava minha mãe prestes a me dar um corretivo a qualquer instante. Mas falava sobre tudo, conversava com os adultos sobre o mundo, sobre a vida, sobre viagens. Nunca fui desrespeitosa com os mais velhos: isso, nunca! Apesar do clima liberal no que dizia respeito a falar abertamente sobre qualquer assunto, não falávamos palavrões nem levantávamos as vozes para contrariar ordens maternas ou paternas. Éramos crianças exemplarmente educadas.
Adorava ser o centro das atenções quando, na mesma época, a diretora da escola onde estudava (pública, diga-se de passagem) levava as visitas importantes (geralmente autoridades políticas) até a minha sala para apresentar-me como a melhor aluna da escola, entre outras qualidades (sim, eu era mesmo a melhor aluna de uma escola pública inteira). Talvez isso tenha me feito amadurecer precocemente, pois carregar o título era um fardo demasiado pesado, exigia responsabilidade e pompa que não eram compatíveis com uma criança de 7 anos.
Ainda aos 7 (em 1983), venci um concurso municipal (ou seria estadual?) de redação para crianças do antigo primário (atual ensino fundamental). Lembro-me que era um concurso de uma famosa marca de iogurtes (não, não farei merchandising) e que o prêmio foi um passeio no naufragado Bateau-Mouche pela Baía de Guanabara.
Depois dos 8 anos e com a mudança de escola, meu mundo perfeito ruiu: precisava sobreviver naquele outro lugar, onde a inocência já não existia. Era tudo diferente demais, duro demais. Menos sonho e mais amargura. As meninas namoravam muito cedo e eu apenas sonhava em ser artista, vestida da Emília de Monteiro Lobato, alheia ao mundo real.
Foi a partir dali que provei o mundo humano, totalmente avesso ao meu mundo onírico. Foi a partir dali que endureci, que me retraí, que passei a sentir vergonha, que desisti de ser artista.
Anos depois, entre Belas Artes e Desenho Industrial, optei pela segunda alternativa.
E hoje, entre a ciência e o mistério, fico com os dois, sorrindo mais calorosamente para o mistério. Porque "instinto, docura e ferocidades", a ciência (graças aos deuses) não consegue desvendar.

3 comentários:

Lúcia Welt disse...

Nina, tu és deliciosa, minha querida. Tua sensibilidade bate com a minha, e estou gostando de tudo o que escreves, me reconhecendo bastante.
Beijos da Lu

I'm Nina, Marie, etc... disse...

Talvez sejamos conhecidas de longa data, Lu...
Eu acredito que reencontramos pessoas especiais ao longo da vida.
Beijos

E agora José? disse...

O mundo ainda é um mistério. Ou melhor, as pessoas ainda são deliciosamente misteriosas. A graça, não está exatamente em responder as perguntas, mas em procurar as respostas. A máscara do sonho é triste. O olhar de sonho, não.