EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

domingo, 4 de julho de 2010

Poema à tarde outonal - ou ao amor descoberto

Quando desisto de outros sentires
e me desnudo daqueles retalhos
é quando o dia verseja o queimor,
o sonho maciço
um bocado de amor
é quando a carne crepita em meu ventre
versos tão loucos quanto teus olhos
palavras tão roucas quanto as que dizes
sussurros, tremores, sentidos urgentes.
E coberta do sal do teu corpo
da água vertida do meio dos olhos
vejo-me livre do medo latente
medo que escoa ralo abaixo,
desejo que viaja alma acima,
arfares de corpo em outro corpo,
boca a sussurrar meu nome
a gritar imundícies dentro de mim
castigo osculante de modos diversos
lábios, língua, falo, vulva,
fome insana de coxas em brasa
cavalgada intensa rumo ao inferno
onde anjos repousam após a batalha.
E enfim - após a paz instaurada -
vibra no âmago o amor liquefeito
promessa muda de amor que se cumpre
torpor de gozo em sonho real
poesia cantada de corpos de amantes
amares despertos em carnes vibrantes
desaguam o presente em tarde outonal.
Tua ausência agora é passado
há em mim um bocado de ti
transbordando teu cheiro, gana, saliva
teu gozo, teus olhos, calor,
repleto da porção que repousa entre as coxas
repleto de nossos vestígios de amor.

Um comentário:

E agora José? disse...

Que saudade de te ler, de ver como você escreve bem. De lembrar como é gostoso, excitante a sua escrita e lembrar a sua voz. Tudo o que me fez me apaixonar por você e tudo que me torna cada vez mais apaixonado.