Sou vísceras da cabeça aos pés - estou crua e pelo avesso. O estômago queima, os pulmões enlouquecem, o coração salta em desatino de fúria de amor. Sou mil monstros, mil demônios, outros tantos anjos sem pele - o que é a pele se minha alma é que grita pelos cantos? E essa lava que ferve e borbulha por dentro desses rios de curso duvidoso me tortura, me desfia um bocado de sonhos, me desafia a lucidez - maldita lava. E a ausência me encharca de álcool e me lança o fósforo aceso. É a saudade a queimar e reduzir a carne a cinzas e alma. Outro desvario dessa embriaguez de querer que tu me causas. Uma dádiva de não-existência de tempo, sombra ou restos. O começo do mundo. O extremo. Um amanhecer que desconheço e que me enche os olhos de luz - vertigem avassaladora da sua alma dentro da minha. Respiro-te e me abro, profunda, espasmódica, de olhos borrados, rosto ferido de tanto amar*. Pois é assim que me entrego: nua, crispada, inteira... em carne viva.
* Artur da Távola dizia que não havia coisa mais bonita do que um rosto de mulher felizferido de barba de amor...
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