EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Vício

Com teus dedos enroscados em meus fios, obedeço a uma ordem balbuciada em tom de amor. Teu demônio me pune por desafiá-lo ao meio-dia. Não sei distinguir teus modos - teus pensamentos são incógnitos à luz do dia. Só sei que me rasgas enquanto te peço carinho, e me acaricias quando te imploro pena de morte - porque a morte que vem de ti me faz renascer em doses homeopáticas e tresloucadas. Vício irrecuperável.


Reviro teus porões. Abro as portas dos meus. Banho-me no lodo de nossos medos e agruras. De rosto contra o chão, sinto cada ranhura do piso com as pontas das unhas quebradas. Ouço o som abafado dos teus passos e as batidas do teu peito aberto a crepitar sentimentos, como sal deitado ao fogo. E quanto mais me repeles, mais me desejas, ainda mais me acolhes. Junto as lascas e cacos e restos da minha alma desencontrada e troco pelo gosto do mar dos seus olhos: tua pele de encontro a minha. Promessas silenciosas de amor. Nossos infernos se cruzando.



Um comentário:

E agora José? disse...

Adoro ler seus posts e estava com muita saudade deles. Os nossos infernos são divinos meu amor, porque ao contrário de servimos no céu, reinamos nos nossos infernos deliciosos.