EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

domingo, 1 de março de 2009

miniuniverso

O vazio das minicertezas me dissolve quando habito meu porão, meu miniuniverso. E, diferente dos outros porões, o meu é claro, limpo, vazio. Não há sujeira ou coisas entulhadas. Há o vazio e eu. Há um silêncio ensurdecedor. E eu me percebo solúvel, invisível, instável.
Há uma fissura no chão. Meus dedos correm ao longo dela, sentindo a falha arranhar a pele. Mas sei que não há outro chão, não há nada abaixo de mim: o som dos passos é oco.
Sinto um calor intenso subir a garganta, crepitando desde o peito. É outra convulsão hormonal. É meu ópio, meu próprio veneno a me queimar por dentro. É a falta de explicação para essa aflição pressionando meu juízo.
Sinto-me absoluta, quase um deus. Sinto que inferno e céu não estão em lugar algum a não ser dentro de mim. A claridade é tão forte que me cega, faz arder os olhos. Preciso de um pouco de escuridão. Porque os deuses também são bipolares - eu preciso de um pouco de tudo.
E quando me deito de ouvido contra o chão frio, ouço apenas as batidas do meu peito rareando; estou me dissolvendo novamente, adormecendo, desaparecendo...

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