EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

sexta-feira, 13 de março de 2009

perguntas, respostas, mistérios...


De alguma forma, sinto como se tivesse perdido o início do espetáculo.

Talvez tenha sido a minha ausência. Talvez tenha sido a sua.

Toda ausência causa uma espécie de vazio, de dormência. Eu não sei lidar com a dormência. Preciso de uma dose extra de adrenalina, de calor, de cor, de dor. Não a dor melancólica da solidão, mas a dor do exagero: exagero de presença - sim, porque a presença também faz doer -, exagero de contato, exagero de olhos, bocas, mãos.

Mas olho de novo para o palco e os atores parecem tão entretidos com seus papéis que não notam a minha presença - a única presença. Todas as cadeiras ao meu redor estão vazias. Pergunto-me o que estou fazendo ali. Sinto-me constrangida. Busco estupidamente uma resposta dentro de minha bolsa. Mas nem os batons revirados, os papéis perdidos ou as moedas espalhadas podem me responder. Há uma nuvem pesada de mistério acima de minha cabeça. Há um buraco esperando tragar-me abaixo dos pés.

O espetáculo chega ao fim. Os atores recolhem-se ignorando minhas dúvidas. Agora o palco também está vazio.
Mas como todo espetáculo que se preze, resta-me aplaudir de pé o que pude assistir. Sempre há um fim para todas as coisas.
É hora de voltar para casa. Eu, eu mesma e minhas incertezas.

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