EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

domingo, 29 de março de 2009

a céu aberto


Eu sou um corpo frágil; e não significa que seja uma matéria com pouco espírito, mas um corpo dotado de um espírito forte, mais forte que o resto.

E esse espírito joga o corpo contra os rochedos às vezes, enquanto os pássaros observam o que restará dos meus pedaços. Mas eu não me entrego. Mesmo o corpo frágil luta contra os próprios pecados, mas o espírito grita e o pune a céu aberto.

A paisagem em preto e branco parece engolir meus pés. Há névoa e apenas alguns pontos de onde posso ver o céu. Quero ver o céu. Mas mãos invisíveis cegam-me - tudo é possível ao sonhador e aos escritores - e o céu passa a refletir dentro de mim, desenhado dentro de minhas pálpebras. E o sol que de repente passa a me aquecer por dentro traz de volta a claridade e a clareza das coisas. O corpo sorri. O espírito acalma. Consigo resgatar a paz na imensidão do céu enclausurado em mim.

Eu me reencontro. A céu aberto - em corpo fechado.


Um comentário:

E agora José? disse...

Nina in the sky with diamonds...

O corpo e o espírito se completam, mesmo que lutem de vez em quando.