EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

terça-feira, 17 de março de 2009

sobre o masoquismo...

masoquismo

ma.so.quis.mosm (Sacher-Masoch, np+ismo) 1 Perversão sexual, em que o indivíduo anormal só satisfaz o desejo erótico quando sofre violências físicas. Há casos de satisfação também nos sofrimentos psíquicos. 2 por ext O que parece procurar sofrimentos físicos ou morais, como autopunição a ato de que seja culpado ou se julgue culpado. Antôn: sadismo.

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Havia pouco que descobrira as delícias que a dor proporcionava ao corpo. O sofrimento que o outro causava fazia acender a pele, o ventre, o espírito. Sentia-se despedaçada e feliz.
Os tapas nas ancas que recebera até então mais pareciam brincadeiras pueris perto do que estava prestes a descobrir. De certa forma estava insatisfeita, inquieta, faminta, como se estivesse sempre faltando parte de alguma coisa. Pensou estar doente. Pensou ser doente. Pensou ser vítima de algum tipo de compulsão sexual intratável que a impulsionasse a buscar parceiros ininterruptamente para tentar saciar um desejo que desconhecia.
Foi numa tarde morna de abril que seu corpo - enfim - despertou. Foi numa dessas ocasiões em que não se sabe exatamente o que esperar. Imaginava estar prestes a repetir o papel de mulher. Mas o que viria seria o início de uma outra vida, de um outro desejo, uma ruptura com tudo que havia experimentado.
Com a pele fresca dirigiu-se a ele, beijando-lhe a boca. Era um beijo terno, que foi se avolumando em sua boca com a língua que crescia e quase fodia os lábios antes pintados de carmim. A barba roçou-lhe o rosto deixando um rastro vermelho por onde passava, misturando-se com o resto de batom que estava agora em todo canto.
Ela se sentou sobre ele ainda vestido, rebolando sobre a maldita calça jeans. O tecido grosso machucava seu sexo de modo que quanto mais doía, mais rebolava. Sentia que ele pulsava a cada movimento seu e suas mãos logo buscaram libertá-lo de tudo o que ainda os separava.
Com as mãos ainda trêmulas, buscou o sexo tenso do amante e o envolveu com os lábios doloridos de beijos. Sentiu as mãos dele quase arrancarem seus cabelos e ouviu daquela boca os nomes mais sujos dos quais jamais fora chamada antes. E a cada xingamento, a cada ofensa, sentia inundar ainda mais o meio das pernas. Sentia-se uma puta.
Logo estava de quatro, oferecendo-se como uma cadela. Mas antes que o sexo fosse preenchido completamente pelo outro, foi invadida por dedos, muitos dedos, com uma força insuportavelmente deliciosa. Os dedos entravam juntos e batiam contra ela quase rasgando aquela carne tão vermelha.
Ela mordia as mãos para suportar a dor, mas não queria que ele parasse. Sentia-se inexplicavelmente amada, querida, suja. Ele a estava punindo por todos os amantes que tivera antes dele, por não ter esperado. E havia um brilho sádico naqueles olhos, um prazer no castigo que aplicava, uma chama que a incendiava ainda mais por dentro. Se ela realmente gostava da dor que sentia, havia encontrado alguém que igualmente gostava de aplicá-la.
Os dedos abandonaram-na e a boca encontrou seu pequeno ponto frágil. Lábios, dentes e língua puseram-se a castigá-la, a mastigá-la. Mas tão logo ela começou a derreter em sua boca, ele parou e fitou o sofrimento em seu rosto, sua entrega. Com as ancas empinadas e abertas, sentiu a carne rasgar com o sexo entrando, e soltou um grunhido como se nunca tivesse sido penetrada antes. E realmente nunca havia sido. Ao menos não daquele jeito.
As duas mãos fortes daquele gigante seguravam seus quadris para que ela não fugisse, para que ela o sentisse inteiramente enterrado em seu corpo, tocando seu útero e proporcionando aquela dor que quase a fazia desmaiar. Era uma dor que arrancava sangue de sua boca, que fazia seus dentes arrancarem pedaços de si mesma, ao mesmo tempo que sentia os dentes do outro em seus ombros, suas costas, em suas nádegas marmóreas. E os hematomas que deixava na parte de trás de seu corpo ardiam a cada tapa que as enormes mãos acertavam enquanto era fodida.
Só soube o que era um orgasmo - um verdadeiro orgasmo - quando este veio acompanhado de dor, de castigo, de verdadeira entrega. Só descobriu seu corpo quando viu o demônio do outro entoar a música que despertava o seu próprio demônio. Era um animal - assumido, descoberto, desperto, faminto. E sua fome somente era saciada quando chorava, à beira de pedir clemência, quando o outro animal jorrava a alma dentro da sua, rosnando, uivando, grunhindo...
Só podia descansar quando o sadismo dele morria dentro do masoquismo dela. Só conseguia fechar os olhos depois que o cão a machucasse e em seguida lambesse suas feridas. E ela, então, aninhava-se nos braços de seu algoz e dormia na paz inabalável do verdadeiro amor.

Um comentário:

henriquen disse...

Puta que o pariu,
Pare de provocar... xD


Tinha uma ex-namorada que era masoquista, mas não no sentido de que gostava de tomar pancadas na pele.

Ela curtia mesmo era sentir dor no coração. Sempre arranjando "sarna pra se coçar" (como se diz por aqui) e mesmo quando tudo estava muito bem, nada estava bem...
Era ridículo.

Mas enfim, superei.

PS.: Há eras que eu não escrevia no meu blog de opinião. Ontem vieram flashes de coisas úteis a serem ditas. Lá está.
xD

mas visite tbm meu blog de poesia.
:D

os endereços:
piniao.blogspot.com
anese.wordpress.com