EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

domingo, 8 de fevereiro de 2009

o monge e a flor...


Sentia apenas a carne coleante que ele possuia na boca. Não via nada, apenas a escuridão que ele oferecera antes de começar a doce tortura. Os olhos (dela) estavam vendados.

Tantalizada pela sensação da língua quente e macia entre as coxas, suspirava, quase em desespero. Nunca havia experimentado a sensação de uma boca plena e faminta na intimidade da alcova.

Sentia como se seu sexo fosse uma fruta, uma flor, e imaginava as nuvens correndo rápido pelo céu que não via. Imaginou o teto abobadado acima deles. Lembrou dos afrescos ali pintados. Sentiu-se culpada. Mas a impressão do sentido que aquela boca causava, o toque da barba, o cheiro que desprendia de seu sexo e impregnava toda a nave central a faziam esquecer de todo o pecado que pudesse estar cometendo.

Sentiu os dedos aliando-se à língua; sentiu algo penetrando a carne, rasgando o sexo que se abria e fechava, mastigando o que quer que lhe fosse oferecido. O corpo inteiro estremecia em pequenos espasmos, fazendo com que o sexo dele se armasse, endurecido contra os pequenos pés, gotejando a baba de delícias contidas durante tanto tempo.

As coxas se contraíam em torno do rosto, pressionando cada vez mais e empurrando o sexo de encontro à boca. A barba densa molhava-se a cada investida da língua que não descansava; gemidos reverberavam pelo amplo espaço que os cercava. As unhas de ambos cavavam a pele do outro, deixando marcas do amor que sentiam.

Aos poucos, enquanto ela empinava o quadril na direção dele, ele se despia, banhado em suor. Em pouco tempo, o hábito havia sido posto de lado. Gemiam e arfavam como dois animais selvagens, como se o mundo pudesse acabar no instante seguinte. Estavam famintos pelo outro.

A boca e a barba enfiados no vale entre as coxas abafavam os gemidos do jovem monge. A mulher emitia sons contidos e pedia perdão pelo delicioso pecado que seu amante mastigava no meio de suas pernas. O inferno havia se instaurado ali. Desejavam a morte, a pequena morte que era prometida aos amantes.

Ela mordeu os lábios, anunciando o ponto máximo do momento. E ele, ao sentir que sua respiração acelerava, investiu mais forte contra a flor aberta que tinha entre os dentes, na ponta da língua. Contraiu as coxas e suplicou para que ela não gozasse.

Com o sexo na mão, levantou-se. Ela chorava, implorando para que ele não parasse. Mas ele queria mais. Já havia pecado e não pararia até conseguir alcançar o máximo que pudesse daquele momento.

Olhou a mulher e fez movimentos rápidos com a mão que tocava o próprio sexo, enquanto a outra alisava a virilha. Olhou os seios e gemeu. Olhou as coxas, as nádegas, o sexo. Como era bonito o sexo aberto como uma flor. Como brilhava, molhado de desejo. O sangue parecia acumular-se num único ponto de seu corpo, e notou como ficava vermelho e lustroso à medida que a fricção aumentava.

Ela, deitada, suplicava. Pedia que ele estivesse nela, do jeito que fosse - língua, dedos, sexo. Abriu-se e com a ponta do dedo tocou o ponto protuberante que guardava seu prazer. Chorou. Desejava que ele fizesse seu corpo ter os espasmos que ela tanto desejava. Ajoelhou-se e pediu. Pôs-se de quatro e ofereceu o que ele quisesse tomar.

Sem hesitar, o jovem padre colocou-se de joelhos atrás dela e a invadiu lentamente, sentindo cada centímetro pulsar na penetração. Fez questão de rasgá-la, indo e vindo com força, soluçando, colocando o terço apoiado em suas costas.

Ela chorava, empinando-se cada vez mais forte na direção dele. Sentia o ventre arder e o sexo dele inchar dentro de seu corpo.

E foi então que a venda dos olhos foi retirada. O jovem ergueu-se mais uma vez e colocou-se diante da mulher. De joelhos à sua frente, os lábios vermelhos dos beijos que haviam trocado o receberam devotamente. Os olhos reviraram e o sangue pulsou mais rápido nas veias. Segurou a mulher pelos cabelos que caíam pelos ombros dourados e pronunciou uma oração em latim, ora arfando, ora engolindo as palavras que saíam desordenadamente. E quando sentiu sua alma querer desprender-se do corpo, afastou-se da boca que o adorava e deixou jorrar o amor espumante no rosto delicado. E quando ela ergueu os olhos em sua direção, clemente, ele desenhou em sua testa e em sua boca o sinal da cruz, abençoando os lábios sublimes que guardavam o mistério divino.

Foram felizes. Sujos e felizes. Proibidamente felizes. Mataram o pecado e a culpa com o amor carnal.

Um comentário:

E agora José? disse...

Esse conto ficou excitante, delicioso, lindo, muito bonito. Compartilhar da criação dele foi também um imenso prazer. Espero poder ajudar mais e te incentivar a criar textos tão gostosos de se ler como esse. Te amo.