EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

espera...

Julliette observava os trens sentada naquela estação: chegavam e partiam pontualmente, como numa valsa metálica sem fim.
Eventualmente entrava em algum vagão, mas tão logo entrava, já saía e voltava a sentar no mesmo banco, esperando o trem seguinte.
As mãos enrugadas e trêmulas seguravam um pacote que vez ou outra ela abria, sorrindo docemente para o conteúdo.
Um dia Juliette não se levantou do banco. Seus olhos permaneceram fechados enquanto os trens iam e voltavam, bailando ao som do aço, mas ainda havia um sorriso no rosto pálido, sorriso de quem carregou até aquele instante a esperança de ver chegar o trem que faria a sua última viagem.


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