EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

about the present...


Sempre gostei de Simone de Beauvoir. Sempre admirei a liberdade com que escrevia e falava de sua intimidade. Hoje percebo que há algo de Beauvoir em mim (não digo literariamente, seria muita pretensão minha): sua relação com Sartre era uma parceria amorosa, um companheirismo que "excluía casamento, filhos, formação de patrimônio". Um amor cheio de obrigações tende a desgastar-se, está fadado ao fim. Talvez isso explique o meu interesse intelectual pelos parceiros que escolho: minha contribuição para a posteridade já foi concedida. Não quero casar, namorar, ficar noiva, constituir outra família... quero sorrir. O que me faz sorrir estará presente todo o tempo. Não tenho tempo a perder com lamentações de amores que não deram certo ou que tenham pretensões futuras diferentes das minhas. O meu presente é intenso e vem se intensificando cada vez mais. Tudo isso não significa que eu não ame ou não me apaixone. Eu amo e me apaixono do meu jeito. Sou livre. Por isso digo que sou uma borboleta e não um pássaro. Não nasci para a limitada vida na gaiola. As asas atrofiam. E eu não conseguiria passar um dia que fosse sem poder, ao menos, esticar minhas asas.

Numa dessas conversas em que uma certa pessoa especial fazia o meu "coaching", foi levantada a questão sobre a falta que um companheiro me faz. Talvez eu sinta falta de um companheiro por não ter encontrado a reencarnação de Jean-Paul Sartre... O que me faz falta é conseguir reunir amor, sorrisos e liberdade, conseguir que o companheiro esteja intelectualmente sintonizado, admirá-lo como amante e poder dizer "até logo" sem que isso cause um escândalo social. O que me faz falta é poder assumir isso, assumir que não quero obrigações.
Podem me rotular, dizendo que este é o estigma da amante. Que seja, então. Nunca liguei para rótulos: eu os leio quando uso o toilette.

"O presente não é um passado em potencial, ele é o momento da escolha e da ação."

[Simone de Beauvoir]


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