Enquanto o mundo rangia feito louco pela manhã caótica, minha boca confessava sozinha um desejo que salivava balbuciando um pulsar contente e não menos caótico que o vai-e-vem de passantes, automóveis, vidas.
E o dia azul me chamava para o centro de outra turbulência, uma tempestade que me varria a razão e me fazia só sentidos - porque o corpo inconsciente caminhava em direção à paz pelo avesso, aos tremores, às erupções, às devastações que me aquietavam ao fim de tudo. E as relações de causa e consequência passavam a não existir, pois a razão havia sido tomada de assalto por uma coisa sem nome bem no meio do peito - um bicho que me devorava de dentro para fora e expunha a carne ao mundo, borbulhando vida e um bocado de flores. Enfeitava-me mais do que havia por dentro porque por fora havia apenas pele e pudor. E se pudor me faz incompleta, então olha meu sangue, minha carne, meu coração, minhas dúvidas latentes expostas - olha o que eu sou de verdade. Agora tu me vês assolada pelas horas, por um tempo indigesto e cruel. Mas agora tu me tens mais do que nunca, mais do que as certezas dos amantes comuns, mais do que a espera, mais do que as horas não contadas. E eu me desfaço em tua cama como um pequeno vulcão em erupção, uma desconhecida de longa data que te beija os olhos antes de partir, depois de urrar, antes de sentir a beleza da saudade que sempre me deixas...
4 comentários:
a beleza não está somente na saudade que te deixa, está também nesta carne que ainda pulsa e posso ver seu coração cheio de palavras que fazem meus olhos queimarem de vontade de devorar seu texto.
Devore as palavras... e tente digerir o que está além delas...
este texto é seu Nina?
Sim. :)
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