EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

sábado, 9 de abril de 2011

aqui, no tempo presente

Olhei com tanta frieza aquela foto que me assustei. Vi-me tão longe do lugar onde estávamos que o terror me tomou todo o corpo - horror no coração: horror porque nada na memória que aquele rosto me traz me melindra, me aquece ou excita. De repente não lembro mais do cheiro, do movimento que a língua fazia na minha boca ou de como era o sexo. Como as pessoas podem esquecer essas coisas? Sinto-me um monstro insensível. Talvez eu não seja um monstro - talvez o fim das coisas esteja mesmo fadado ao esquecimento. No fundo, é um pouco engraçado. Não, não é insensibilidade. Na verdade, tudo é tão bonito do lado de cá do jardim que não me importa mais nada que houve ou que possa ter doído em algum momento. Uma das coisas boas de ser quem eu sou - e como eu sou - é a velocidade com a qual "apego" e "desapego" acontecem. E saber colocar as coisas em tempos certos e lugares mais certos ainda - o passado precisa reconhecer seu lugar. E agora, de peito aberto e cabelos ao vento eu digo: como é bom estar sempre no presente! Aqui eu me sei, eu me sinto, eu me vejo. Aqui eu sorrio.

4 comentários:

Rubens Milioli disse...

Como queria viver só no presente, me assola sempre esse passado recente e o passado passado é tão imperfeito que ainda me causa confusão. Mas os "desapegos" ainda consigo ter.

I'm Nina, Marie, etc... disse...

Vou escrever um livro sobre isso: como deixar realmente o passado passar em apenas três lições. hahahaha! Vai virar livro de bolso de um monte de gente.
Vou ficar milionária! Olha! Descobri como ficar rica!
:)
(não liga... eu tô boba hoje...)

Ná,Naty,Natália... disse...

é... eu quero sentir isso tudo, quero me sentir um monstro insensivel, é muito melhor não sentir...é muito melhor...

Rubens Milioli disse...

vou comprar esse livro, afinal eu vou conseguir deixar ir esse, o passado.