Ele chegou antes que o sol beijasse a janela. Entrou sorrateiro por baixo do lençol para me [des]encontrar nua. Estava nua em todos os sentidos - sem roupa, sem pensamentos rápidos, sem proteção. O sotaque do Alentejo brindou meus ouvidos balbuciando aquelas duas sílabas carinhosas que só faziam sentido se ele as pronunciasse.
- Diz que me ama, Nina...
Sentia raiva por ele ser tão intolerante, tão arrogante, tão politizado, tão bonito. Mas havia algo macio naquela muralha aparentemente impenetrável. Havia um lugar nele que só eu conhecia - e ele odiava admitir isso. Era detestavelmente sarcástico quando desejava testar meus limites - mas aprendi a reconhecer pequenos sinais que denunciavam suas intenções [quaisquer que fossem].
Ainda estava magoada por três ou quatro palavras mal empregadas na noite anterior. Ele conseguia me machucar fundo, me afetar de um jeito que só afetam as pessoas de extrema importância. Resmunguei qualquer coisa que simulasse desinteresse. Mas não havia como fugir da voz, da presença, da perturbação vulcânica que ele causava quando me invadia com o cheiro do cabelo comprido, da barba mal feita, do cigarro insistente. Mais uma vez as pequenas ranhuras eram deixadas de lado, entre juras de amor e violação amorosa consentida.
- Diz que me ama agora, Nina... pois foi assim que sempre quis te fazer um filho...
E meu ventre sorriu enquanto o sol lambia as cortinas do quarto.
4 comentários:
não sei se posso falar palavrões, por isso, vou definir como extremamente pluralizador dos sentimentos alheios. você, mesmo que sem dizer, abrange as letras que um dia todos vamos falar (nas mãos ou nos lábios).
Sim, você pode falar palavrões. Aqui é território livre (bem livre).
:)
"meu ventre sorriu..."..sabe aquela sensação do seu coração afundando qndo vc le um text bom pra caralhow?...pois eh...parabens!'(eh territorio livre pra palavrao mesmo neh!?Rs)
Éééééé, Lana!
Coloca pra fora, menina! hahahaha! Adoro isso!
Vamos animar essa casa!
Beijão e esteja sempre à vontade por aqui!
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