EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

sobre a normalidade e desejos represados...

A ansiedade é sempre uma arma engatilhada apontada para a própria testa. O momento crucial vai se aproximando e a tensão agita o pulso, o sexo, a cabeça. Você se pergunta se vai tremer, se vai gemer, se vai emaranhar os dedos no cabelo do outro para que ele venha mais para dentro, mais no fundo, se vai conseguir penetrar além do sexo, se vai atingir aquele ponto que ninguém conhece. Você se pergunta se o outro vai arrancar nacos da sua pele com os dentes, se vai te deixar marcada. Você deseja aquela curra consentida. Você deseja que o tempo pare naquele mundo arbitrário, onde a normalidade torna-se uma referência controversa, porque o normal passa a ser diferente dentro daquele espaço que só existe naqueles momentos específicos, porque o resto do mundo é doente. Você deseja morrer por três segundos e acordar novamente no fim de tudo. Você morre. Você acorda. Você sorri. Você pensa que é preciso dosar um pouco. Você não consegue. Você se vicia. Você quer correr e as pernas não obedecem. Você quer parar e continua. Você quer respirar e quase sufoca. Você quer uma explicação mas não acha. Você arde. Você foge. Você volta. Você faz piadas infames. Você ri. Você se perde novamente nos outros olhos. Você teme a loucura mas é o reflexo da insanidade. Insanidade efetiva, afetiva, anestésica. Você é, torna-se, transforma-se. Funde-se. Ama. Enlouquece.

Nenhum comentário: