EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

domingo, 13 de setembro de 2009

a pequena felicidade...


Havia um tanto de solidão no silêncio. Mas, às vezes, o barulho dos copos e vozes era vazio e oco como a solidão em si. E na imensidão do azul-laranja, os olhos enchiam-se da água salgada da baía, e as recordações vinham ondulantes, bailarinas petulantes e exibidas aos olhos dos saudosos.
E a memória dos dias felizes desnudava a saudade qual fruta ou doce descascado, reavivando os momentos que haviam passado e permaneceriam, sempre, na pele. E a alma, marcada a fogo pelo outro ser - inteiro - instituía o amor.
O sol do ser ardia a carne e fazia sombra ao imaterial. Era tudo completo e fragmentado, certo e duvidoso: a controvérsia do ser na autoridade do estar. Alegria e cansaço vistos da janela em manhã de domingo. Os filhos que não nasceriam e os que já gritavam em torno da rede. O amor menor.
A dor da partida que coagulava o sangue... a emoção do retorno - mesmo que breve - que aplacava os soluços infantis dos amantes: o brilho vivificado nos olhos com a certeza de um novo recomeço a cada dia.
E a beleza? Esta permaneceria intacta, sempre.

Repostando... texto publicado em 14/06/2008: http://e-agora-jose.blogspot.com/2008_06_01_archive.html


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