EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

domingo, 5 de junho de 2011

pequenas considerações sobre reencontros de amor e coisas afins

Sempre achei que o amor causasse o tempo todo a sensação de montanha-russa. Que fosse necessário e imprescindível a presença da estranha fúria amorosa e adrenalítica que envolve os amantes. Mas de repente - não mais que de repente - torna-se suavidade. Palavra macia. Tem gosto de brandura, de céu, de algodão doce. É sem medo. Não tem limites ou castrações. É inteiro. Somos inteiros.
Aos quinze anos estávamos tão cheios de inseguranças e incertezas que passamos a nos olhar a uma certa distância. Eu passei a te olhar à distância. Eu já era uma mulherzinha - ainda em construção - mas tão repleta de vontades que só conseguia ver o que meus impulsos juvenis e hormonais deixavam óbvio. 
Agora penso - e me embasbaco imaginando - que só continuei escrevendo por tua causa, porque naqueles tempos você me enxergava por trás do rosto de menina levada. E você me dizia escritora. Não sei se realmente me tornei uma, mas a paixão pelas letras começou contigo, naquela época, por causa de George Orwell e dos teus suspensórios - pode parecer estranho, eu sei, mas são coisas que só eu entendo.
Aos dezessete, aquela carta com papel timbrado do teu pai me encheu de alegria - como se meu peito estivesse sendo visitado por foliões em pleno carnaval. E ali você disse que me amava pela primeira vez - mesmo sem ter escrito exatamente isso. [essa carta ficou guardada naquela pasta de desenhos que eu tinha no colégio, no meu pequeno templo de "sacralidades" e está aqui agora, na primeira gaveta desta mesa]
Essa noite, quase dormindo, você me dizia que o que mais te encantava quando eu tinha quinze anos era o meu jeito de andar, de ser acelerada, de fazer tudo a 500 km/h. Acho que não mudei tanto nesses aspectos. A grande diferença é que fui andar pelo mundo, ver a vida, saber mais de mim, me encontrar e desencontrar um bocado de vezes para poder reencontrar você. Para poder parar de brigar com o tempo. Para sentir calma. Para amar de verdade. Agora. Você.

4 comentários:

Rubens Milioli disse...

Mulherzinha de seus textos encantadores. Amor é sempre gostoso, mesmo que se esconda por tempos. Ame. Escreva, quando possível.

Camila disse...

só um sorriso exprime esse texto.

Mandaricks disse...

Amor é só uma coisinha, nem faz tanta falta assim. Mas uma vez tendo... Muda tudo!

I'm Nina, Marie, etc... disse...

O amor é uma miudeza que chega ocupando espaço.