EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

quinta-feira, 31 de março de 2011

janela

grita teu nome
teu dia
tua sombra
diz-me teu tempo
tua vontade
desejo
faz-me deidade
entidade
coisa
ao que teus olhos pedem
ao que teu corpo implora
quando teus joelhos tremem
e tu ordenas
pedido
perdido
me olha pela imagem no espelho
e me descobre estranha
ferida
crua
grita meu nome em silêncio
de sílabas marcadas e tensas
e encaixa teus soluços e dramas
em minha garganta;
olha a janela de flores
- teu jardim suspenso -
porque amanhece o dia lilás
iluminando a pedra fria
daquele outro mundo
do outro lado
do lado avesso
avesso do canto do quarto.

2 comentários:

Rubens Milioli disse...

Avesso do canto do quarto. Sem qualquer loucura, choras o choro do outro e assim me põe a pensar o quanto os choros me fazem sofrer.

I'm Nina, Marie, etc... disse...

Olha as flores no jardim da tua janela...