EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

terça-feira, 22 de março de 2011

confissão - Clementine e o segredo do quarto da árvore

Clementine aventurou-se novamente no quarto da árvore - a boca tremia e a pele descascava-se inteira, deixando a alma em evidência. O claustro ainda tinha o cheiro que ela havia deixado antes - madeira ralada e sexos em atrito. Precisavam de poucas palavras - de palavra alguma. Sentia-se um pouco criminosa, pois invadia furtivamente o pequeno mundo que começava e acabava dentro do quarto e depois partia. Não perguntava nada, apenas sentia o corpo sorrir para dentro e sorria de volta para ele. Estava permissiva e incrivelmente aberta. Experimentaram ardências e quenturas - havia muitas cores em todos aqueles gostos e texturas. Poderiam reinventar o que os homens chamam de arte - porque eram deuses e aos deuses tudo é permitido. Clementine era, então, uma mulher parida dela mesma - renascia do seu próprio ventre. 
Clementine partiu novamente - foi compartilhar seu segredo à distância, tendo a lua como testemunha grave e branca da confissão de amor que deixara no corpo surpreso do quarto da árvore. E Clementine retornou:  Clementine retornou para ver de perto os estragos que havia causado - porque era devastadora, petulante, descarada. Definitivamente, não ligava para as tempestades - embora tivesse medo delas, vez ou outra atrevia-se a se banhar no que lhe era ofertado.

2 comentários:

Rubens Milioli disse...

Volta sim, Clementine. Arrebate mais alguém com sua vida fulminante. Sempre a lhe render elogios. Só em elogios.

I'm Nina, Marie, etc... disse...

Ah, Clementine, essa Clementine...