EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

madrugada

Ele adorava a sujeira daquele relacionamento.

Enquanto os homens comuns idealizavam suas companheiras como mulheres angelicais e comportadas - pois as indecentes serviriam-lhes apenas como amantes - ele havia idealizado algo diferente, e descoberto que ainda não tinha conseguido imaginar todas as possibilidades. Acreditava que alguma força divina - ou não - a pusera em seu caminho. E descobriu, então, que seu ideal de companheira era diferente, era algo que pairava entre delicadeza e sujeira, inferno e paraíso. Porque ela fazia-se puta quando queria seduzi-lo, era indecente até a última fibra de seu corpo, tinha a língua e o sexo em fogo.

Entraram às duas da manhã na sala reservada do Terminal Rodoviário. Um senhor cochilava perto da máquina de café. A meia luz e o silêncio da saleta eram um convite ao sono àquela hora. Sentaram-se de frente à tela que exibia um filme antigo qualquer. Sentiu-se entediada. Abriu uma revista e passou rapidamente as páginas. Ele abriu um livro que ela havia comprado para ele dias antes - mais um livro de poesias eróticas. Ela sabia exatamente como excitá-lo. Olhou para ele sorrindo de lado, vendo seu interesse na leitura. Buscou então a mão que não segurava o livro e levou à boca, introduzindo o polegar entre os lábios e acarinhando a ponta do dedo com a língua quente. Ele fechou os olhos - como sempre fazia quando algo o excitava - e olhou em seguida para o homem que dormia. Seu sono era profundo e sonoro. A mão dela escorregou para o meio das pernas dele, sentindo o quanto ele gostava da situação - seu rosto tornava-se grave, olhos fechados, como em uma espécie de transe. Ela parou, então, sorrindo mais uma vez, desafiadora. E os olhos dele faiscaram, significando que não havia mais como voltar atrás.

A bagagem de mão foi colocada estrategicamente em seu colo. Sentia o sexo queimando e molhando o meio das coxas que se apertavam cada vez que ele pulsava em sua mão. As luzes da sala e da plataforma começaram a piscar intermitentemente, anunciando algum problema elétrico. O movimento dos funcionários na plataforma os excitava ainda mais. E valendo-se da luz que falhava, ele buscou tocá-la para provocá-la ainda mais. E a luz apagou-se definitivamente.

Imediatamente ela se levantou, tateando o caminho para o pequeno toalete da sala reservada. Sem hesitar, ele pôs-se de pé, seguindo-a no escuro. Fecharam a porta e se apertaram no pequeno lavabo, feito loucos em silêncio. Com a saia levantada, foi suspensa e prensada contra a parede, sentindo o desespero rijo de encontro à sua virilha. Ela beijou-lhe a boca, sacana, mordendo os lábios e lambendo o outro rosto, exatamente do jeito que o alucinava. De repente, acertou-lhe o rosto com um tapa. Não conseguia ver os olhos dele, que provavelmente estariam brilhando. Sentiu apenas uma mão apertando-lhe o pescoço enquanto seu sexo era invadido de uma vez só com um pequeno rosnar. Estavam, então, como queriam. Ele lançava-se para dentro dela com violência, pressionando os dedos em volta do pescoço branco e subindo em direção aos cabelos, que agarrava com força, forçando o corpo dela para baixo, de modo que engolisse inteiro o seu sexo que pulsava desesperadamente. Fodiam feito cães, desesperados de amor. Enquanto batia sua virilha contra a dela cada vez mais rápido, o corpo suspenso estremeceu e amoleceu, fazendo com que ele sentisse uma onda quente envolver sua porção latejante e molhar suas pernas. E com o pulsar acelerado, deixou que o corpo dela escorregasse ao chão e ordenou: "Engole."

A boca macia o envolveu tão intensamente que mal pôde conter que a explosão vazasse da boca ao seio que fugia da blusa, palpitante e suado.

As luzes acenderam-se, cúmplices. No toalete, cheiro de sexo e vestígios molhados de amor pelo chão.

Um comentário:

E agora José? disse...

S-E-N-S-A-C-I-O-N-A-L

Você conseguiu matar a minha saudade e me deixar com mais fome de você. Que delícia, simplesmente delicioso.