EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

domingo, 27 de julho de 2008

meninas...


Narcise acabara de completar 18 anos. A idade adulta trazia o peso da maturidade que não queria. Tinha um ar astuto e misterioso, o que provocava frisson nos homens e meninos que a cercavam.
Sophie, aos 16, era mais madura que as meninas de sua idade, mas mantinha um jeito deliciosamente imaturo no seu jeito de olhar. Andava sem a precupação de quem desejava ser vista. A franqueza dos olhos pequeninos e rasgados do rosto branco como o de um anjo assustava os outros e criava, de alguma forma, uma área de proteção ao seu redor, lugar onde somente havia espaço para os convidados.
Narcise, com a gravidade de quem já havia provado dissabores de desamores, carregava um quê de melancolia no olhar, como se estivesse a espera de um milagre ou sinal que a chamasse de volta para a vida.

E foi numa manhã de inverno que os olhos se encontraram. Olharam-se e sorriram. Ambas acenaram com a cabeça, cumprimentando-se.
Sophie, sentindo algo explodir dentro do peito, tratou de saber quem era a moça dos olhos castanhos claros. Narcise sentiu a face ruborizar e as mãos suarem. Falaram pouco. Os olhos conversavam em silêncio, enquanto o resto do mundo passeava em torno delas.
Assim seguiram ao longo dos dias, conhecendo-se e identificando as afinidades. Enquanto Sophie perdia-se nos grandes olhos de Narcise, essa mordia os lábios pequenos e cheios, esperando - mesmo que inconscientemente - a coragem para avançar e sentir a pele macia da outra menina.
Ao mesmo tempo que era tomada por um desejo incontrolável, outro sentimento a remoía por dentro: o medo. Narcise tinha medo de apaixonar-se perdidamente pela outra, pelo gosto da boca perfeita e rosada, pelo cheiro da pele branca, pelo toque daquelas mãos que gesticulavam impacientemente. Do outro lado, Sophie era incisiva e audaz, e cortejava Narcise como se não tivesse dúvidas ou medos em seu céu.

Todas as inseguranças trancadas no quarto escuro da alma de Narcise sumiam quando via os pequenos olhos rasgados sorrindo em silêncio para ela. Havia cumplicidade quando se olhavam...
A platonice da paixão sáfica rompeu-se numa tarde em que, deixadas a sós, Narcise caminhou na direção de seu pequeno anjo e tocou seu rosto, aproximando-se lentamente de seus lábios e roubando-lhe um beijo terno. Foi a vez da pequena Sophie ter o rosto em fogo.

Beijaram-se como se não houvesse mundo. Beijaram-se e deixaram os corpos encontrarem o caminho para sua realização. Sophie cuidadosamente tocou o corpo de Narcise, começando pelos seios. A pequena boca carnuda emitiu gemidos suaves, entreaberta e encostada nos lábios de Sophie, que explorava Narcise com a língua.
Narcise sentia a coxa de Sophie pressionando-lhe o meio das pernas, como se quisesse abrir caminho por ali.
Por baixo da saia, Narcise molhava-se a cada toque de Sophie, entrando em desespero com a proporção que seu desejo tomava. Sentiu as mãos de Sophie puxando sua calcinha para o lado, encontrando seu sexo com os dedos. Gemeu novamente e abriu-se mais, pois queria entregar-se completamente à outra.

Sophie beijava Narcise sem parar, enquanto seus dedos exploravam o interior macio, quente e úmido de suas pernas. Homem algum havia tocado Narcise daquela forma doce.

Com dois dedos dentro dela e a palma da mão roçando seu clitóris, Narcise explodiu em orgasmo, gemendo e arfando com a língua de Sophie enterrada em sua boca.
E quando o pulso voltou ao normal, trocaram mais carícias e adormeceram juntas, semi-nuas, como ninfas de tempos imemoriais.
Narcise havia encontrado seu pequeno milagre...

3 comentários:

Priscila disse...

=D
Legal³.
PS: Publicado em 27 de julho? Como se eu num vi?? O.o

E agora José? disse...

Lindo. Suave e poético. Me lembrei de um conhecido que fingia ser mulher para cortejar uma outra mulher e lhe escrevia cartas dizendo coisas estúpidas. É quase um crime desfazer a beleza de quem sabe escrever de verdade, com beleza, esse amor sáfico. E você sabe, meus parabéns. Também tenho um pequeno milagre marcado na memória, quando minha mulher experimentou o gozo em uma posição que jamais havia antes experimentado. Eu não resisti e perguntei a ela quando retomou o fôlego se ela havia encontrado o seu pequeno milagre.

dinha ' disse...

como eu deixei de comentar ?! rs ... confesso a vc que gravei em meus favoritos e volta e meia leio ... acho simplesmente lindo ... toda a delicadeza e afeto ... rs ..