EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

quinta-feira, 3 de julho de 2008

olhos...

Angélique tinha o semblante puro como o de um anjo e colo e ombros dourados de sol, o que não impedia que suas coxas fossem alvas como nuvens, macias como só elas podiam ser. E os olhos de moura*, aquelas grandes janelas castanhas e claríssimas, transparentes à luz, seduziriam o mais racional e contido dos mortais.


Com sua saia plissada e as meias até os joelhos, Angélique caminhava, descuidada, com uma sensualidade comovente, ingênua e indecente. Sentava-se sem modos, deixava o cabelo em desalinho, e a aparente falta de intencionalidade em seu comportamento era justamente o que a tornava excessivamente sensual. Talvez tivesse se inspirado na Lolita de Nabokov e reconstruído a personagem... Talvez...
Angélique, aos 15, comportava-se como se ainda estivesse no início de sua adolescência, e talvez passasse por 12 ou 13 anos, não fosse seu corpo tão sinuoso e seios tão atraentemente cheios.

As aulas de música eram as que Angélique mais gostava. O professor, demasiadamente atencioso, um homem de meia-idade, era alvo do desejo de outras professoras, algumas casadas. Não era alto nem propriamente a reencarnação de Adonis, mas era um homem de cultura e visão ímpares, o que o tornava extremamente atraente. Discreto e contido, falava pouco sobre sua vida. Mas ao ver Angélique, seus olhos brilhavam como os dos adolescentes famintos que a desejavam com toda a força.

Angélique não gostava tanto assim da prática musical - preferia a história da música - da mesma forma que muitos artistas preferem história da arte à prática da pintura ou escultura, por exemplo. E isso a fazia demorar-se mais 15 ou 20 minutos após o término das aulas, para que o professor contasse histórias que alimentavam sua imaginação púbere. E a forma como a pequena se debruçava sobre sua mesa o deixava aturdido.
Já passava da hora de Angélique voltar para casa, mas ela insistia veementemente que o professor contasse sobre o surgimento da música de salão, com os olhos castanhos e enormes vidrados em seu rosto, ansiosos pela história que estava por vir.

O professor pela primeira vez recusava um pedido seu, por conta de um compromisso inadiável. Angélique fez beicinho como criança, uma visão que enchera seus olhos de emoção. Num pulo, a ninfeta foi da mesa ao colo do mestre, que quase chorava de comoção e desejo. O hálito de framboesa e os lábios carnudos eram um convite ao beijo, mas ele não podia tocá-la fora de seus sonhos, longe do refúgio de sua cama, onde masturbava-se chamando seu nome angelical e pedindo clemência aos deuses por seus pensamentos proibidos.

Excitado, ofereceu-lhe carona. A pequena disse que aceitaria se ele prometesse contar-lhe a história que pedira durante o percurso. Com um sorriso trêmulo, aceitou. Desejava sair dali, correr para algum lugar deserto e gritar todo o amor contido em seu peito. Seria imundo se a tomasse, imaginou. Ela era apenas uma menina...

No caminho para o estacionamento, Angélique tagarelava ao lado do professor, em direção ao carro, dando pulinhos enquanto contava os pormenores de seu primeiro baile. Ele mal ouvia as palavras pronunciadas por ela, focando sua atenção nos lábios que se abriam e fechavam e faziam bicos deliciosamente provocantes, formando um botão rosado e perfeito.

Sem controle de seu corpo e de seus pensamentos, caminhou teso ao lado da menina até chegarem ao carro, onde abriu a porta para que ela entrasse. Angélique sentou-se e ele fechou a porta, dando a volta para entrar pelo outro lado. O suor escorreu pelo canto do rosto ao ver a saia bem levantada, deixando à mostra as coxas brancas e perfeitas. Sentia o sexo pulsar incontrolavelmente dentro das calças, então pôs os livros no colo para que ela não notasse.

Assim que começou a dirigir, Angélique abriu as pernas, olhando de soslaio para ele e sorrindo maldosamente. Ele, nervoso, fingia que não via e tremia ao volante, agitado como nunca estivera antes. E ela, totalmente diferente da ingênua menina da sala de aula, enfiou a mão dentro das coxas, puxando a calcinha para o lado e tocando o sexo virginal, quase levando à loucura seu pobre mestre. Desajeitado, deixou que os livros caíssem durante a condução, revelando sua excitação e uma mancha molhada no tecido da calça fina, o que fez a menina soltar um gemido irônico.

E enquanto seus dedos exploravam o próprio sexo por baixo da saia plissada, a outra mão buscava tocá-lo enquanto conduzia, fazendo com que ele pedisse para que ela parasse com aquilo. No fundo, Angélique fazia o que ele mais desejava... Mas o medo de ser pego, de sucumbir à tentação de tomá-la como mulher aterrorizava sua alma e sua razão o dizia para não ir além das carícias... Só as carícias eram permitidas, pensou.

Sem conseguir continuar conduzindo o veículo - as pernas não mais obedeciam - parou o carro numa pequena trilha pelo caminho e beijou Angélique. A boca e a língua eram experientes, valsavam com nobreza em sua boca pequena e rosada. E as mãos fortes saltavam por dentro da blusa branca e fina da colegial, arrebentando, sem querer, o primeiro botão do decote. Os seios redondos e cheios enchiam a sua mão perfeitamente, como se feitos sob medida para elas. E os bicos jovens, virginais e lisos, eram macios como seda.

Num acesso de loucura, Angélique abriu a blusa toda, arrebentando os outros botões, e acertou o rosto de seu professor com um tapa. Atônito, afastou-se. Olhou para a menina aterrorizado, com medo de ter ultrapassado todos os limites. E Angélique, rindo, tirou a calcinha molhada e o obrigou a mastigá-la, esfregando a excitação em sua cara. Chocado, ele obedeceu. Com o pé - ainda com a meia - afastou-o de si, abrindo ainda mais as coxas para que ele se deliciasse com a visão do sexo fresco e molhado. Os poucos pêlos estavam melados, encharcados do desejo enfurecido da ninfeta. Mandou que ele abrisse a calça e se masturbasse para ela, da mesma forma que fazia quando estava sozinho em sua cama fria. Sem resistência alguma, pôs-se a tocar o sexo com um vigor assustador, enquanto a adolescente olhava, satisfeita. Com um único movimento, Angélique colocou-se à sua frente, encaixando os seios no sexo duro, como fazem as putas experientes. Começou a masturbá-lo com os seios, uma visão divina. Com uma das mãos tocava-se, enlouquecendo o homem e impregnando o carro com seu cheiro doce e jovem.

Enquanto ele chorava apertado entre o volante e o banco, com as costas na porta do carro, a guria enfiava-lhe as unhas na virilha, como se o estivesse punindo. E era óbvio que sentia prazer nisso. O professor, sem saber se ela o rechaçava ou desejava, derramava lágrimas sobre o peito nu, olhando as mechas do cabelo desalinhado de Angélique cobrindo os olhos que tanto amava...

Novamente, como uma louca, Angélique jogou a cabeça para trás e acertou outro tapa no rosto de seu professor, dessa vez ainda mais forte. Mas ser subjugado pela menina diminuía sua culpa... e satisfazia um lado seu que desconhecia. Aquela cadelinha o estava dominando como se fosse uma mulher adulta, experiente, decidida. Estranhamente, aquela atitude fazia crescer seu desejo. Sua vontade era rasgar Angélique com seu sexo, mas ao mesmo tempo queria preservá-la, adorá-la como a um anjo.

E então o anjo dourado ofereceu-lhe o meio das pernas, puxando seu rosto na direção daquela flor molhada que tinha entre as coxas. Ah, como ele queria comê-la... Mas quando aproximou a boca do sexo molhado, ela virou-se de costas, rosnando, mandando que ele batesse nela. Cada vez mais chocado e excitado, deu-lhe um tapa leve. Ela riu novamente e abriu a porta do carro, saindo semi-nua para a frente do veículo.

Sem noção da situação em que se encontrava, o professor saiu nu atrás da ninfeta, que debruçou-se no carro, oferecendo-lhe as costas e abrindo-se enquanto se masturbava novamente. E, abandonado pela razão, penetrou violentamente a jovem por trás, já sentindo espasmos violentos a tomar-lhe o corpo, anunciando que encheria a porção empinada e aberta de Angélique. Mas o pequeno diabo encarnado no corpo da adolescente virou-se e o encarou tão profundamente que quase o hipnotizou. Desceu lentamente até o chão, arranhando as pernas do homem até que o sangue brotasse da pele, deitando-se, enfim, no tapete de folhas secas outonais.

Ali estava ela, seu pequeno amor, totalmente aberta e oferecendo o sexo virgem de seu corpo maldito. Ela queria que ele a fizesse mulher. Ela pedia para ele tomá-la. E quando, enfim, seu corpo pôs-se sobre o dela, escancarando a carne com estocadas brutas e descompassadas, Angélique revelou que já não era virgem. Enquanto ele a comia forte e fundo, a jovem musa revelava que já havia seduzido mais de 20 homens, que ele era apenas mais um fraco que sucumbia à beleza virginal da mais puta das ninfetas.

Angélique morreu asfixiada, aos 15 anos, com os olhos enormes, oblíquos, castanhos e transparentes abertos, após ser currada e surrada por horas, assim dizia o jornal local.

*um agradecimento especial a Lúcia Welt, pela expressão "olhos de moura".

3 comentários:

E agora José? disse...

Muito, mas muito bom mesmo! Eu acompanho os seus textos e tenho a sorte de assistir ultimamente alguns deles sendo escritos. E não lembro de nenhum que seja assim, tão Nelson Rodrigues. Tão destrutivo metaforicamente, que seja tão provocante por evocar a fantasia e tão real ao exagerar nas consquências. Que mostre o ser humano, o homem e a mulher, em uma alegoria aumentada, na fragilidade perigosa dos egos, dos desejos e da provocação em usar, abusar e provocar. Confesso que lembrei do Sonata.

I'm Nina, Marie, etc... disse...

É... eu comecei pensando numa coisa e no final saiu outra completamente diferente...
Talvez ter escrito com você me olhando tenha me dado uma inspiração diferente...rs

(bom material para seu próximo conto...)

Lúcia Welt disse...

Barbaridade, guria! tu sempre me surpreendes! É uma forte narrativa, explícita e sincera, como as mulheres não costumam ter a coragem de fazê-lo. Somente em Alma, minha irmã e tu mesma eu vi essa explicitude maravilhosa, essa coragem, essa afirmação profunda do sexo sem freios, sem metáforas hipócritas. Eu te admiro, guria. Como já te disse, Alma te amaria...
Mas, me diga, "olhos de moura", porque não me escreveste mais?

Saudade
da Lu