EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

domingo, 4 de outubro de 2009

votos


Não quero fazer votos de amor eterno ou amor futuro. Quero fazer votos de amor presente, de amor onde se vive um dia de cada vez. Quero amar no presente e com a urgência do último dia e, assim, não deixar que as coisas da rotina atrapalhem os momentos nossos. Eu quero compreender a rotina e aprender a conviver com ela (porque ela existe, é real e mais duradoura que o amor). Quero transformá-la em festa. Quero fazer dela a terceira ponta de um ménage sem dias contados para acabar. Mas não quero que acabe. E também não quero que "a morte nos separe", pois isso significaria nunca mais ouvir sua voz, brigar com você, tomar café juntos, falar dos amigos esquisitos, ficar magoada com a sua teimosia ou aturar seus rompantes de fúria. Quero que haja apenas eu e você, que sejamos mais do que pessoas que se amam - pessoas que são companheiras de vida. Porque eu quero que haja apenas nós dois quando os dias estiverem nublados ou quando houver céu de brigadeiro. Porque esses instantes são únicos e não podem ser refeitos, mas geralmente conseguem ser desfeitos para nunca mais.
Com alguma sorte, desejo que você me compreenda, me aceite, me deixe quieta quando meu gênio estiver faiscando. Quero que aceite minha liberdade e minha independência, assim como meus momentos infantis e fracos, meus segundos de insegurança e intolerância. Porque eu sou difícil, eu sei. Todo mundo é.
Quero conseguir te beijar nos seus dias de mau humor - aliás, quero te beijar sempre. E isso é complicado, pois os casais se esquecem dos motivos que os fizeram chegar até ali, no auge da rotina. E eu digo: se nós conseguirmos, é porque decidimos acreditar: acreditar que conseguiríamos ficar juntos e conviver com a rotina - ou sobreviver a ela. Decidimos acreditar que não há razões para nos amarmos, mas que há incontáveis motivos para querermos estar juntos. Apesar de tudo.

Um comentário:

E agora José? disse...

Eu quero o amor presente, diário e incondicional, apesar das horas e de nós mesmos. Com ou sem razão, com todos os motivos sempre. Porque nós podemos sobreviver a nós, apesar de tudo e assim compartilharemos a vida um do outro.