EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

domingo, 24 de maio de 2009

COISAS SIMPLES II

COISAS SIMPLES II
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Enquanto guardava o celular com o coração apertado e mortalmente ferida, ela jamais poderia imaginar que alguém a observava à distância. E ao assisti-la recolher as velas e desfazer a mesa, guardando os cd’s - eliminando qualquer pista sobre a sua decepção - por pouco ele não desistiu de tudo e foi até o apartamento pedir desculpas. Mas o tempo de culpa e cobrança, se houve algum, já se passara. Sabia que não lhe diria nada, guardaria em silêncio aquela falta e eles continuariam sem mágoas. Não era a primeira vez que ele fazia algo assim e com certeza tão pouco seria a última: o que a deixava com a única escolha de aceitar ou não o seu homem como ele era. Embora ela colecionasse um passado considerável, nunca havia encontrado um homem que a fizesse sentir tão feliz e amada e que ela amasse tanto quanto ele; seu coração não lhe deixava escolha. No entanto mesmo sendo menos experiente ele também possuía seus próprios truques e ela se lembraria disso naquela noite.
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Caminhando desgostosa, a noite fria arrepiava sua pele e a rua vazia parecia querer intencionalmente fazê-la sentir-se ainda mais abandonada. Os olhos marejaram e em silêncio ela lutava contra as lágrimas que ameaçavam borrar a maquiagem. Passos ao longe a trouxeram a realidade, um vulto grande se aproximava rápido em sua direção. Os sentimentos confusos se transformaram em medo e raiva por estar sozinha, quando deveria estar tendo a melhor noite de sexo de sua vida. O ponto de ônibus estava longe e não havia ninguém por perto.
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A figura crescia e se tornava mais intimidadora a cada passo, ela apressou-se pedindo a Deus que tivesse algum lugar aberto no qual pudesse se esconder. Ela entrou em um bar prestes a fechar pedindo ajuda. Não bastava o constrangimento de ser perseguida, a situação se tornou ainda pior quando depois de alguns minutos ninguém passou por aquele trecho deixando-a com a impressão de ter forçado uma desculpa para encontrar uma companhia para noite. Envergonhada e desacreditada da divina providência, ela rapidamente se desvencilhou do novo embaraço e voltou a seguir o seu caminho, quando uma quadra adiante o vulto reapareceu.
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Dessa vez ele estava muito mais perto, o maldito a estava esperando, uma blusa com touca escondia seu rosto. Pensou em correr, mas o desespero fez suas pernas fraquejarem e em um instante o homem a alcançou e empurrou para um estacionamento. Tudo aconteceu muito rápido e ela não teve chance de reagir, chorando ela implorou ao homem que não a machucasse. O desgraçado olhando-a de cima a baixo, com uma postura cínica e maliciosa respondeu falando em seu ouvido e com a mão em sua garganta:
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“_Mas puta igual você gosta de apanhar.”
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Aquela voz! Ela conhecia aquela voz, era ele! Uma mistura de alívio, ódio, vergonha e tesão a invadiu e ela o abraçou desconcertada. Em seguida com os punhos fechados, quis atacá-lo. Ele, porém segurando seus braços a colocou contra a parede e com um tapa a pôs em seu lugar.
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“_Eu sei que você queria ser fodida quando foi me ver e é exatamente o que vai ter, mas do jeito que uma cadela como você merece, na rua.”
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Rapidamente beijou-a forte mordendo sua boca e arrancando sangue dos lábios carnudos. Os dedos foram buscar debaixo do vestido curtíssimo e dentro da calcinha a prova de que ela era uma cadela. Segurou seu rosto e a fez lamber o gosto de sua excitação. Ela estava tão molhada que parecia que ao invés de fazê-la passar por tanto terror, havia acabado de lamber os lábios que se escondiam entre suas coxas, mais carnudos e doces dos que enfeitavam seu rosto sem-vergonha. Obrigando-a a se ajoelhar, ele se desfez das calças e puxando-a com força pelos cabelos curtos guiou a pequenina boca vermelha de batom para engoli-lo de uma só vez.
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Ela inegavelmente excitada, começou a chupar a ponta do sexo dele produzindo movimentos com a língua iguais a de uma víbora. Com as mãos ela o masturbava e se masturbava; e estava tão encharcada que ele podia ouvir mesmo com os gemidos o som dos dedos se enterrando, lambuzados.
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O cenário invertera-se, agora era ela quem estava no controle. O gozo inevitável que sua boca coleante infalivelmente acarretava, tirava o domínio dele que travava uma guerra contra seu corpo para não gritar de prazer. Agarrou-se aos ferros da construção e com a voz embargada, avisou-a em tom de ameaça que não importava o que acontecesse, ela não deveria parar até ele atingir o orgasmo.
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Enfim os carros começaram a rodar naquele ponto esquecido da cidade e um, lotado de adolescentes bêbados chegou até a mexer rindo com a vagabunda que não agüentava chegar até o motel para chupar o pau do seu homem. Tudo isso alimentava a libido daqueles dois degenerados e quanto maior o perigo de serem capturados, mais ela se comprometia a excitá-lo, ora lambendo-o, ora passando o pênis em seu rosto, ora pedindo para sentir o gosto de seu esperma. E com isso mais ele inchava tornando-se impossível repreender o prazer que só lhe torturava só faltando fazê-lo chorar.
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Um líquido branco, pegajoso e grosso encheu a boca da mulher que engoliu cada gota com o rosto sôfrego, pois concomitante ao calor que descia por sua garganta, outro líquido quente gotejava na sarjeta sujando seus dedos. O urro que ele desferiu ecoou pelo céu noturno e enquanto se recuperavam, as janelas se acendiam dos prédios ao redor. Um minuto depois um carro com a placa “MAC...” parou no estacionamento e escondidos atrás de um arbusto no outro lado da rua eles mal puderam conter a risada ao ver um pobre coitado sujar o sapato no gozo deles. Diante dos olhares recriminadores das pessoas o infeliz xingou alto:
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“_Filhos-da-puta!”
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POSTADO POR "E AGORA JOSÉ?"

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