EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

sábado, 12 de abril de 2008

sobre o mistério...

Muito mais do que a sensação de estar; é mais fundo, mais enterrado na alma carregada de angústias e saudades. Havia a perfeição do imperfeito: tudo tão meticulosamente colocado à margem de nós, tão disfarçadamente passeando entre os passantes, que os deuses, apesar do poder de intervenção (será?), observam, curiosos e intrigados, essas criaturas - nós - tão cheias de mistérios e significações simbólicas que nem eles mesmos conseguem decifrar.
Contudo, parece-me absurdamente pretensioso que essa raça que se auto denomina moderna e evoluída queira compreender e despir os véus de todas as coisas.
Ora, se o que nos move é justamente a busca, talvez seja providencial que não se alcance todas as respostas.
A curiosidade é a mola motora. O mistério é o combustível.

Tudo isso me fez lembrar de 1994, quando fiz vestibular para Belas Artes e Desenho Industrial. Optei por Desenho Industrial. Ser designer parecia-me muito interessante. Moderno. A prova de Habilidade Específica para a faculdade de Belas Artes foi feita e passada com louvor. Mas a opção foi outra.
Foi quando, em 1995, na aula de Desenho de Observação, notei que 24 dos 28 alunos não conseguiam desenhar. Eu era um dos 4 diferentes do resto. Os outros 3 eram bons demais, desenhavam carros e máquinas, à medida que eu desenhava nus. Paulo (ou seria Marcos?), meu professor, chamou-me ao fim da aula e disse-me para largar a faculdade. Senti a garganta apertar; achei que ele fosse me dizer que eu não daria uma boa profissional. Frustrante para uma garota de 19 anos. E aí, a surpresa:
- Vá para Belas Artes, minha filha.
- Por quê?
- A grande diferença entre o artista e o designer é a alma envolvida no trabalho. Designers são solucionadores de problemas, quase cientistas. Artistas são anjos que resolveram passar um tempo por aqui e colocar a alma para fora.

Hoje, aos 32, percebo melhor tudo isso. E entendo que não sou moderna. Sou e não sou. Continuo querendo um pouco de tudo, mas sem a pretensão de saber tudo sobre esse pouco. Apenas não quero ser punida com a ignorância dos grandes.

(Meros questionamentos de uma alma que paira entre a arte e a ciência, o abstrato e o concreto, a vontade de saber e o pavor que o conhecimento me traz - esse conhecimento que fez - e faz - grandes homens, poetas ou senhores de guerras.)

Postado por Nina


2 comentários:

E agora José? disse...

O meu mundo por muito tempo foi devagar, mas inexoravelmente começou a girar cada vez mais rápido, me tragando em um redemoinho de acontecimentos em cadeia que me deixaram quase louco. E foi de dentro do olho do furacão, que eu encontrei o sentido para me redescobrir. As muralhas que a muito custo, eu ergui me privando de sentir, ruiram e agora eu estou livre. Troquei os grilhões por asas, estou me dando o direito de aprender, de me arriscar, de me aventurar, de sentir, de amar. E o mistério de tudo que é e que será é muito maior do que qualquer covardia de que eu sentia, me jogar no abismo nunca foi tão fácil. Qualquer queda para a liberdade é para o alto.

I'm Nina, Marie, etc... disse...

"Let's take a chance
and fly away
somewhere
alone..."

(Starting over - John Lennon)