EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

sábado, 12 de abril de 2008

antes do amanhecer...


Ele passou a unha suavemente pelo contorno das nádegas descobertas dela e sorriu. A brancura dava lugar a manchas vermelhas que desenhavam perfeitamente os dentes que haviam deixado ali sua marca durante a noite.
Sem que ela notasse, ele descobria e contava todos os sinais de seu corpo. Uma mecha vermelha caía sobre as pálpebras ainda coloridas do verde da maquiagem do dia anterior. Havia pêlos dele grudados na pele branca, por toda parte; as marcas das garras eram como sangue pisado, tamanha força imprimira para agarrar-lhe as ancas, enquanto - literalmente - a comia. Era animal, e gostava de pensar e agir como tal no que dizia respeito à satisfação de seus instintos.
Com uma das garras, afastou a mecha de cabelo que cobria o rosto adormecido. A pequena boca em forma de coração estava vermelha e inchada. Era um vermelho tão intenso que reavivava sua memória e o fazia rosnar baixo, com os sentidos já excitados. Com a boca entreaberta e o sexo pulsando, descobriu inteiro o corpo que ali repousava, indefeso. Encostou-se nela e arfou bem próximo de sua orelha; o hálito morno carregado de desejo rosnava para que ela despertasse. Por trás, afastou-lhe as coxas, buscando o caminho quente que tanto desejava. Ainda sonolenta, abriu os olhos e sentiu o roçar bruto entre as pernas, já molhada. Ainda dolorida da força que ele havia usado na noite anterior, soltou pequenos gemidos de dor quando sentiu a carne queimando por dentro novamente. E apesar da dor, queria mais, mais fundo e mais forte. Queria estocadas que a fizessem gritar, rir, chorar de dor e felicidade. O animal a possuía com paixão e raiva; ela, aquele anjo, libertou-se das asas castradoras de sentimentos para entregar-se à perdição. E sentir tudo ao mesmo tempo era tão estranho e intenso que por vezes pensava que não era real, pensava que fosse talvez uma espécie de transe hipnótico. Mas as contrações que nasciam no ventre anunciando o que os homens chamavam de "gozo", a faziam crer que aquele sim era o paraíso, carregado de toda a delícia de ser e existir.

Postado por Nina
(escrito antes do "reencontro"...)


5 comentários:

E agora José? disse...

Reencontrar o que eu nem sabia que tinha perdido, mas que assim que descobri me despertou uma saudade desesperadora foi inexplicável. Você jamais vai sair de mim, e estar com você aumentou a minha fome, a minha fome de você, de dizer através do que as palavras não são capazes de traduzir o quanto te amo. A vida está me surpreendendo a cada dia, com surpresas boas. Desde que eu olhei seus olhos e me permiti ser feliz. Teremos milhares de momentos pra sentirmos saudades e para atiçar a nossa fome. Eu não vou mais andar, daqui em diante, só danço.

I'm Nina, Marie, etc... disse...

Que dancemos juntos, então...
Os olhos se encontraram e o tempo parou pra nós naquele instante... Nós já sabíamos, de alguma forma...
E agora eu quero mais, e mais, e mais, e mais...
Talvez a Joyce esteja certa quando mencionou Paulo Coelho: talvez realmente tenhamos visto a tal luz brilhante no ombro do outro. Talvez tenha sido assim que, inconscientemente, nos reconhecemos.

Ricardo Augusto disse...

É... definitivamente eu não sei escrever sobre sexo.
Excelente... o que mais posso dizer? Erótico sem se vulgar. Já disse que vc é uma das minhas escritoras preferidas? hehehe

I'm Nina, Marie, etc... disse...

Pode repetir, por favor?
:)

Anonymous disse...

Eu tambem nao sei falar...