Madrugada. Caminho no frio orvalhado das pedras cintilantes, nua, pés descalços, trêmula, verde. Eu sereno. Bato às portas pesadas dos sonhos alheios, às portas de saída do meu próprio labirinto. Ninguém responde. Caminho soluço tropeço caio levanto sigo. Sigo pelo cheiro que vem no caminho do lado de fora - lado de fora de mim. Falta-me o ar. Não há pensamentos, há somente sensações de olhos cerrados enquanto tua língua me castiga o meio das coxas. Castigo de língua e dedos. Ando rápido, com o peito aos saltos e o pulso prestes a explodir. E essa tua conversa íntima com minha boca me põe em choque, em transe, em estado de insanidade temporária. Estou prestes a correr. É quente, muito quente, e teus suspiros gemidos fazem vibrar tua língua em minha carne viva. E te suplico continuidade. Estou prestes a morrer. E corro. Corro pelas pedras cintilantes, pelo asfalto frio, pelo chão de terra batida. Corro até cansar as pernas, até perder as forças, até não sentir o chão abaixo dos pés e beijar o precipício que me sorri estrelas - lanço-me suicida no abismo gozoso de tua boca.
EGO
"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."
(Clarice Lispector)
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quinta-feira, 21 de julho de 2011
quinta-feira, 19 de novembro de 2009
no limbo da memória
Às vezes ficam restos de algumas coisas pelo caminho - pelo chão do quarto, pelo sofá da sala, pelo armário do banheiro. E não são restos ou rastros de outros - são rastros de nós mesmos. Simplesmente porque fazemos questão de esquecer, mas esquecer também faz parte de lembrar. E lembrar de algumas coisas significa esquecer de outras, uma confusão de memória fundida entre lembrança e esquecimento, feito capuccino. E, assim como o capuccino, há um terceiro elemento, um lugar neutro e aglutinante. É o limbo onde se escondem os vestígios da gente. E nesse monte de bagulhos revirados eu preciso pescar algumas lembranças, mas é uma procura tão intensa que chega a ser cansativa. É como procurar um soutien que você sabe que perdeu dentro do seu próprio quarto e que não consegue mais achar - o que chega a ser quase absurdo. É como esquecer um fato íntimo que só foi confiado a você e lembrar de uma miniatura de porquinho rosa que vinha de brinde numa coleção de fazendinha de uma marca de margarina (ou seria leite?) há trinta anos. É como esquecer de quase tudo que houve entre os onze e os quinze anos porque, no fundo, você queria que muita coisa não tivesse acontecido - você sabe que aconteceu mas não lembra como ou quando aconteceu exatamente. É como precisar juntar sempre os pedaços para me ver inteira de novo.
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