EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

segunda-feira, 3 de agosto de 2020

do cárcere

Do viver maculado de vícios
resta um punhado de impulsos,
um azedume assombroso e mórbido,
um queimor translúcido
contido nos quatro cantos do claustro
na brancura fria e limpa do desespero-dor
de carne que chama rua, tormenta, multidão;
vibrando um querer obscuro e pulsante
pontilhado de maresia obscena e lamacenta
tal qual o indizível desejo de morte,
do abraço virulento e sem rosto
à espreita num beco sujo
ou na esquina cheia de vivos-mortos,
a encruzilhada espera tictacteando,
sincronizada às batidas do peito,
contando os segundos para o último beijo -
seco, amargo, vazio -
despedida na infinita escuridão.

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