EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

terça-feira, 4 de junho de 2013

das cartas de amor que quase escrevo

Deveria te escrever uma carta de amor. Uma carta mesmo, de páginas de caderno com pauta, folha escrita frente e verso. Dessas que a gente guarda por anos e se emociona toda vez que lê. Dessas que, ao final da leitura, trazemos pra junto do peito com lágrimas nos olhos. Uma carta longa no lugar dos bilhetes. Eu pulverizo meu amor nos bilhetes, mas precisava mesmo era encher teus olhos - e teu peito - dessa imensidão que sinto. Preciso dizer tanta coisa, mas no final parece que nunca encontro palavras que digam exatamente o que quero, cheias dessa coisa diferente que você me faz sentir. É como se você me engravidasse o tempo todo, como se me fizesse um filho a cada beijo, a cada sorriso, a cada suspiro colado na minha boca. Sim, eu acho mesmo que você me engravida. Eu me sinto fértil tempo integral, tonta, eu derreto pelos cantos e meus olhos brilham como os de uma adolescente. Sinto friozinho na barriga quando está na hora de você chegar. Meu coração dispara quando alguém passa usando o seu perfume. E o teu jeito de me olhar sério quando sente saudade me causa uma comoção indescritível, como se eu também pudesse estar ao mesmo tempo dentro e fora de você. Nós fazemos pactos de amor em silêncio, e aí eu percebo que as palavras não valem tanto assim. Eu entendo melhor quando você me beija e me expresso melhor quando estou enfiada em tua cama. Então é isso. Talvez eu te diga pouco porque te digo muito mais quando não falo. Talvez por isso te escreva apenas bilhetes - porque todo o resto eu te digo em carinhos.
 

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