Josephine amanheceu com a noite nos olhos - era sempre noite naqueles olhos claros e castanhos borrados de maquiagem. E virava os pares enigmáticos pelas ranhuras que nasciam do chão como raízes, subiam pelas paredes até o teto, como se a tinta gasta de cor crua e encardida tivesse derretido de seu corpo e escorrido pelo lençol, como vida liquefeita, amor alcoólico, semi-deslumbramento. Fundia-se à cama e a todo o resto, como se fosse vento manso, ar, ar, ar. Respirava amoras, sorria insultos. Desintegrava-se. Embriagava-se em suas ebulições míticas. E os montes brancos latejavam na boca da Vida, tensos e cobertos de musgo invisível, pelos, lindos, alimentando a fome bradada naquela garganta. E a miséria lustrosa da escassez de temores cravava suas unhas no colchão de nuvens, deixando apenas os olhos de Josephine vidrados nas horas salpicadas nos girassóis do quarto, repletos de mistério e completamente nus de segredos. Porque Josephine era inteira enigma - mistérios decifráveis, palpáveis, substanciais.
2 comentários:
Anda descobrirei os enigmas de Josephine. Belo texto, cheio de momentos intensos.
Josephine é linda, não é? Nem sei se dá pra ver, mas ela tem olhos bonitos.
Gosto dela.
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