EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Fodi todos os poetas que conheci
todos os músicos que ouvi
todos os artistas que apreciei.
Pulei na cama de Drummond
de Vinicius, de Bocage,
Henry Miller, Sartre,
Kandinsky, Picasso.
Trepei com todos os filósofos que me desejaram
com todos os boêmios que me alvejaram
com todos os perdidos que me quiseram.
Homens complexos, sempre complexos,
desatinados no pensar livre
abandonados por suas razões sórdidas
- ou desafiados por elas.
Sou puta verborrágica - disse-me aquele filósofo
que nunca me tocou a pele.
Sou meretriz de verbos e vícios e letras ensanguentadas
- alma desgarrada de pedra e vidro e algodão.
Sou musa torta e torpe e cretina
sou vários nomes, vários atos, várias línguas.
Sou essa carne teimosa, alcoolizada, vadia.
Sou Nina, Marie, Clementine, Juliette, Hermínia.
Sou a presença, o presente, o passado, o esquecimento,
esse fogo que queima louco, fundo, forte
essa lava, essa fluidez de várias sílabas,
esse medo do escuro.
Sou o amor total.
A canção.
A palavra maldita.

Um comentário:

Veiote disse...

Sim, esta é você. Pronta para sempre degustar cada pedaço da vida por inteira, sem partes ou cortes. Tudo do jeito cada vez mais intenso e louco, sem hora, sem minuto, sem segundo para contar...o ápice da vida sendo atingido no ato multi-orgásmico do gozo e da alegria de viver!