EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

sexta-feira, 26 de junho de 2009

ainda sobre coisas simples...


Sentia uma espécie de corrente elétrica seguindo o fluxo do sangue conforme a noite se aproximava. Estava mais desperta que o normal. Um punhado de sensações transbordava pelos poros, molhava os pelos, aquecia o corpo. A blusa preta aberta caía e deixava parte dos ombros à mostra, como o vale entre os seios e, mais abaixo, o centro do corpo, aquele monte vivo e incandescente encaixado onde as coxas se encontravam.
O cheiro dele estava impregnado na blusa. Abriu a garrafa de vinho e deitou-se no sofá, desejando que ele não demorasse aquela noite. A bebida aliada ao desejo que se alastrava pela pele tornava seu corpo ainda mais febril. Com o dedo indicador contornava a beira do copo, tentando conter a vibração que tomava o meio de suas pernas. Apertava as coxas e relaxava, num ato de quase-masturbação... Não queria se tocar, queria guardar o desejo para que o outro a incendiasse e depois acalmasse. Podia sentir como se derretia por dentro e como o fogo fluido saía de seu corpo, molhando sua virilha, suas coxas. As recordações da noite em que a mágoa pela espera foi transformada em realização de um desejo contido a acendiam ainda mais. A imagem dele agarrado aos ferros naquele estacionamento, quase se desfazendo em sua boca, faziam seu sexo vibrar insuportavelmente. Lembrava de cada pulsação do pênis em sua boca, de cada jato quente que ele despejara nela... E o grito... o grito... o arfar... a respiração forte dele no meio do silêncio... Era tão comovente... E a imagem ia tornando-se distante, turva, calada...
Com os olhos fechados, sentiu o corpo ser esmagado, lentamente movimentado... Aos poucos foi tomando consciência novamente de seu corpo e do que acontecia dentro dele: seu amante havia chegado e, de alguma forma, excitou-se com a visão da mulher dormindo semi-nua em seu sofá, vestindo apenas sua blusa, totalmente desprotegida...
Ele a comia devagar mas tão fundo que, a cada estocada, apertava os olhos e rosnava sandices... À princípio pensou em resistir, em mandar que ele parasse, mas ele entrava e saía tão facilmente que revelava o quanto ela estava molhada. Sentiu a carne arder. Fingiu ainda estar sonolenta e espantou-se como ele estava impressionantemente duro e inchado dentro dela. Ele ia e voltava lentamente, como se quisesse prolongar seu prazer eternamente, como se quisesse estar nela até morrer. Seu desejo aumentava à medida que ele arfava. Ele conseguia enlouquecê-la.
Sem poder mais conter sua voz e os movimentos de seu corpo, ela abriu os olhos. Ele sorriu para ela e continuou mexendo. Ela pediu que ele parasse e se acomodasse sentado no sofá. Ele obedeceu, gemendo, com o sexo palpitando em sua mão, babando, enquanto observava o corpo dela se mover e apanhar a garrafa de vinho ao lado do sofá. Com a garrafa na mão, encaixou-se sentada nele, abocanhando o pênis com a boca que sorria no meio de suas coxas. Enquanto subia e descia lentamente, bebia o vinho na própria garrafa, oferecendo o líquido morno em sua boca para o outro beber.
O vinho os alimentava como combustível, fazia seus corpos ficarem mais sensíveis e despertos, atentos à cada gesto, cada toque, cada movimento dos quadris, cada beijo de línguas e dentes, cada investida contra o útero.
Inchado e desesperado, ele soltava ais e arquejava e respirava aceleradamente, prevendo o terremoto que se formava em seu sexo, prevendo que o gozo viria enchê-la. E ela, plenamente consciente do que acontecia, também sentia seu ventre contrair em espasmos incontroláveis; sentia a onda quente apertar o sexo dele e inundar suas coxas. E veio então o grito. E o gozo. E depois o silêncio. E a calma. E a sensação pulsante de um corpo dentro do outro corpo, que explode e se dissipa, aos poucos, enquanto a pequena morte os tornava novamente suaves, afáveis, ternos.

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