EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

domingo, 4 de maio de 2008

a incontestável falta do óbvio...

As palavras rasgaram seus ouvidos e, igualmente, seu peito. O resto do mundo parou de existir por minutos que pareciam durar uma eternidade.
O nó em sua garganta não duraria uma noite ou alguns dias: duraria a vida inteira, assim como a verdade das últimas palavras proferidas, da promessa feita.
Sentiu-se completamente sozinha, náufraga, órfã. Era, enfim, a criança que não havia nascido; o aborto retido. Era a falta incontestável do óbvio e, ao mesmo tempo, do imperceptível.
A mobília do quarto parecia olhá-la com ar de censura, como se tivese tomado vida. Mas o silêncio era interrompido pelo impacto leve e salgado na madeira envernizada, formando pequenos córregos sobre o castanho do móvel.
Cada sílaba, uma batida. E cada pronúncia esculpia uma cova no meio do peito, uma lacuna que não seria preenchida.
Havia, então, feridas. Dos dois lados. E eram daquelas que permaneceriam abertas e sangrariam à menor recordação ou saudade.
De tudo, restou apenas o ventre tão infértil quanto solo árido. E um punhado de certezas.
.

3 comentários:

E agora José? disse...

Fiquei triste. Gosto ruim, o texto é muito bom, mas é preciso ser forte para não se emocionar com ele. Você é a minha escritora preferida, mesmo quando empunha espinhos, tem talento. E isso é óbvio e incontestável.

Priscila disse...

Sabe o que a gente faz com a incerteza?
Manda ela catar coquinho na descida do Everest.
Concordo com o José. Texto bom, mas triste, e nenhum de nós quer te ver triste.
Te amo bem grandão. Minha foca fofa mais linda do mundo.
Shmuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu

I'm Nina, Marie, etc... disse...

Eu escrevi isso chorando... Acho que estou ficando mole demais...

Pri,
Eu prometo que não vou ficar mais triste, tá? Estou tentando tomar coragem pra mandar "a tristeza" catar coquinho na descida do Everest... Eu sei que não sou perfeita (ainda bem) e que é difícil me entender muitas vezes, mas você (talvez melhor do que ninguém) saiba que nada disso faz de mim uma criatura má (só às vezes...rs).
São essas minhas alterações hormonais que acabam comigo, menina...
E também amo vc muitão, Shmuzinha-luz-púrpura-cintilante-lindinha da Angie...
:D
(nossa, isso foi um puta comentário meloso!)

Zé,
Te amo... E pra quem quiser ler, lá vai bem grande: TE AMO, ZÉ!
(ufff... passou... crise adolescente-balzaca...)
:)