EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

sábado, 17 de julho de 2021

pelas horas não contadas (ii)

No morno assombro da madrugada
amanhece fronteiriço o tempo
tecido em sutilezas esquecidas
nesse relógio-corpo desencontrado das horas
e afogado nas esquisitices bailantes
na tenacidade dos exageros
e incertezas dos dias.
Entardece displicente a ânsia,
matéria de sentires
no doce inferno
do festival de adoração
(carne, ossos,
sangue e delicadezas).
Tudo é o tempo que foge,
míngua, se espalha pela terra
abaixo dos pés,
urgência desesperada
a assolar corpo e espíritos
- todos eles e o mundo -
onde urge a breve morte
e o mais breve reviver.
Tudo é o viver pelas horas
não contadas,
presente passado a cada instante:
tempo-vivo,
tempo-morto,
tempo meu.

(poema adaptado da prosa de 23 de janeiro de 2010)

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